Índice de miséria mostra que Norte e Nordeste precisam mudar

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Dado aponta a soma da taxa de desemprego e da inflação em 12 meses e sinaliza a percepção de perda de poder de compra da população

Bairro de Boa Viagem, no Recife, é marcado por alta desigualdade social

A forte inflação tem levado os Bancos Centrais de boa parte do mundo a subirem os juros com mais intensidade. Sendo de oferta ou de demanda, o fato é que a inflação está em grau elevado o suficiente para os bancos centrais serem mais agressivos do que sinalizavam antes. E estão corretos.

Não há sinais no curto prazo de normalização total nos mercados de commodities com as incertezas sobre a guerra da Ucrânia e o mercado de trabalho americano segue aquecido, colocando pressão no curto prazo nos salários.

Inflação elevada de um lado com juros mais altos levando a desemprego também mais elevado lá na frente. É a sina a se pagar para evitar o pior dos mundos que é a inflação que corrói a renda especialmente de quem é mais pobre e não consegue se proteger da alta de preços.

Mas esses números são médias. A percepção regional costuma ser diferente. A inflação em Curitiba pode ser diferente do Recife, e a taxa de desemprego também pode ser diferente entre essas cidades. E os fatos têm mostrado que essa diferença não apenas ocorre, mas pode ser grande.

Com efeito, o índice de miséria, calculado para algumas cidades para as quais existem informações, mostra justamente uma diferença importante. Esse dado mostra a soma da taxa de desemprego e da inflação em 12 meses e sinaliza a percepção de perda de poder de compra da população.

Os resultados mostram que o Nordeste tem apresentado os piores números, muito acima da média brasileira e as capitais cujos estados têm presença de commodities vem apresentando números bem melhores (gráfico abaixo).

Taxa de miséria nas capitais – taxa de desemprego + inflação

Taxa de miséria nas capitais – taxa de desemprego + inflação / IBGE. Elaboração e estimativa: MB Associados

Não há grande diferença entre as taxas de inflação, mas sim entre as taxas de desemprego, as quais apresentam números muito elevados nas capitais nordestinas.

Justamente o efeito das commodities tem sido importante para manter as taxas de desemprego baixas nessas cidades enquanto o Nordeste teve uma forte dependência de programas sociais e da Previdência nos últimos anos, que não conseguiram gerar sustentação de crescimento.

No momento em que se precisou fazer ajuste no salário mínimo e na Previdência, essas cidades começaram a sofrer as dificuldades para conseguir gerar crescimento menos dependente do estado.

Claro que a pandemia, por ter afetado com mais intensidade os serviços, acabam afetando essas regiões pouco industrializadas e com forte peso do turismo. De qualquer maneira, é uma situação que tem implicações não apenas econômicas, mas políticas.

Os estados mais pobres tanto do Norte quanto do Nordeste terão que ter políticas mais ativas e menos dependentes do Estado que consigam gerar desenvolvimento.

O caminho do Norte está claro: passa pela Amazônia e seu desenvolvimento econômico sendo explorado com a manutenção da floresta e não sua destruição.

O Nordeste tem dificuldades históricas, mas também dessa região vem os dois grandes exemplos transformadores de educação no Brasil, com o ensino fundamental em Sobral, no Ceará, e o ensino médio em Pernambuco.

A própria região tem um caminho claro de quebra de paradigmas na educação, mas que depende de vontade política para acontecer. Esses polos educacionais em conjunção com boas universidades públicas poderiam fazer do Nordeste no futuro um polo de tecnologia, até pela proximidade dos mercados americano e europeu haveria escala para que isso acontecesse.

Com as mudanças geopolíticas transformando a globalização em algo mais regional do que mundial, seria uma grande oportunidade do Nordeste nesse sentido.

Há grande evolução de energia sustentável na região (eólica e solar), o que atrai mercados compradores preocupados com o ESG, além de forte base universitária e eventualmente de ensino médio caso o exemplo pernambucano se espalhe, com mão de obras relativamente barata.

Aqui o BNDES poderia entrar em conjunto com alguma coordenação regional para que esse modelo funcionasse. De certa forma, o Nordeste conseguiu fazer isso ao criar o Fórum de Governadores para lidar com a pandemia.

A região precisa começar a pensar de forma mais integrada e unir forças, até pela confluência de governos de centro-esquerda que facilitariam esse processo.

Melhorar o desenvolvimento econômico da região vai demandar pensar fora da caixinha e com esforço integrado de todos os estados, com troca de experiências e informação.

Há uma chance a se aproveitar com a institucionalidade iniciada com o Fórum dos Governadores e bases sólidas na educação. Esperar o Estado voltar a ser a fonte de crescimento é perder uma ótima oportunidade de crescimento tecnológico de longo prazo.

Fonte:      cnnbrasil.com.br


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