Pesquisa com mais de 8 mil idosos mostra que é possível recuperar qualidade de vida após os 60 anos com apoio social e atitude positiva em relação ao envelhecimento
Quando se trata de envelhecimento e vida saudável, geralmente recebemos os mesmos conselhos: comer melhor, exercitar-se diariamente e dormir mais. No entanto, um novo estudo descobriu que focar apenas na saúde física não é suficiente para alcançar a longevidade.
Pesquisadores analisaram o bem-estar ideal de adultos mais velhos, definido como ter apoio social; percepções positivas sobre o envelhecimento, saúde física e mental, felicidade e satisfação com a vida; além da capacidade de realizar atividades diárias sem limitações graves.
“Nosso estudo com mais de 8 mil idosos descobriu que muitos que não estavam em bem-estar ideal no início da pesquisa conseguiram recuperá-lo em apenas três anos”, disse a Mabel Ho, primeira autora do estudo, em um e-mail, referindo-se a 1 em cada 4 idosos que tiveram melhora significativa na saúde. “Essas descobertas desafiam a noção de que o bem-estar inevitavelmente declina com a idade e destacam o potencial de mudanças positivas na vida posterior.”
O estudo, publicado em 24 de setembro na revista PLOS One, foi uma análise secundária de dados coletados do Estudo Longitudinal Canadense sobre Envelhecimento.
“Essas descobertas se aplicam a adultos com 60 anos ou mais que atualmente não estão em saúde ou bem-estar ideal”, disse a Esme Fuller-Thomson, autora sênior do estudo, em um e-mail. “O estudo oferece esperança e insights práticos para idosos, cuidadores e formuladores de políticas, mostrando que, com os suportes e escolhas de estilo de vida adequados, muitos idosos podem recuperar um alto nível de bem-estar mesmo após experimentar um bem-estar abaixo do ideal.”
Mais de 1 em cada 5 americanos terá 65 anos ou mais até 2040, e quase 3 em cada 5 deles precisarão de serviços e suporte de longo prazo, de acordo com um relatório anterior da CNN.
Em 2023, cerca de 93% dos adultos com 65 anos ou mais nos Estados Unidos relataram ter pelo menos uma doença crônica, como doenças cardíacas e diabetes. Embora nem todas as condições crônicas possam ser evitadas, muitas podem ser prevenidas através de mudanças no estilo de vida.
“Indivíduos que inicialmente apresentavam forte bem-estar psicológico e emocional tinham quase cinco vezes mais chances de alcançar uma saúde geral ideal ao final do estudo”, afirmou Ho, recém-doutora pela Faculdade de Serviço Social Factor-Inwentash da Universidade de Toronto e pelo Instituto de Curso de Vida e Envelhecimento.
Os resultados “também enfatizaram a influência crítica de relacionamentos de apoio, condições socioeconômicas e escolhas de estilo de vida saudável, como atividade física regular, não fumar e dormir bem”, acrescentou ela.
No entanto, as descobertas do estudo podem não ser aplicáveis a todos os adultos com 65 anos ou mais, já que os pesquisadores concentraram seus esforços no Canadá, onde os pacientes têm acesso a um sistema de saúde universal.
“Essas descobertas fornecem informações valiosas sobre envelhecimento e bem-estar no contexto de um país de alta renda com saúde universal”, disse Ho por e-mail.
“Entretanto, ainda não está claro como esses resultados se traduzem para os Estados Unidos, onde não há assistência médica universal ao longo da vida; da mesma forma, mais pesquisas são necessárias para entender como idosos em diversos contextos globais experimentam e recuperam o bem-estar em países de baixa e média renda, onde o acesso à saúde, suporte social e condições econômicas podem diferir significativamente do Canadá.”
Adotando uma abordagem holística para saúde e envelhecimento
Fisicamente, existem três principais mudanças de estilo de vida que você pode implementar para alcançar um envelhecimento saudável: exercício, sono e dieta.
E embora comportamentos como alimentação nutritiva e treino de força sejam importantes, eles não serão tão eficazes se você não estiver também lidando com questões de solidão e mantendo relacionamentos positivos.
“Uma das coisas que sempre digo aos meus pacientes é que, acreditem ou não, não existe doença ou mal-estar sem a participação da mente. A conexão mente-corpo é incrivelmente subestimada pela medicina ocidental”, afirmou Andrew Freeman, diretor de prevenção cardiovascular e bem-estar do National Jewish Health em Denver. Ele não participou do estudo.
Adultos cronicamente solitários com 50 anos ou mais têm um risco 56% maior de derrame do que adultos com níveis mais baixos na escala de solidão, de acordo com um relatório anterior da CNN.
A redução do estresse e a socialização frequente também foram associadas à melhora da cognição em adultos que experimentam doença de Alzheimer em estágio inicial.
“Cultivar conexões sociais fortes é um componente essencial do bem-estar geral. Mudanças no estilo de vida, como parar de fumar e tratar problemas de sono como a insônia, também podem levar a melhorias significativas na saúde”, afirmou Fuller-Thomson, professora e diretora do Instituto de Curso de Vida e Envelhecimento da Faculdade de Serviço Social Factor-Inwentash da Universidade de Toronto.
“Ao focar nessas questões principais, os adultos mais velhos podem desenvolver resiliência e melhorar sua qualidade de vida, mesmo quando lidam com desafios de saúde existentes.”
Nunca é tarde para fazer mudanças
O estudo destaca que é mais fácil para adultos jovens alcançar o bem-estar ideal, mas isso não significa que os adultos mais velhos não possam conseguir.
“Nossa pesquisa muda a narrativa ao mostrar que o bem-estar na idade adulta avançada não é estático. Muitos adultos mais velhos podem se recuperar e reconquistar uma saúde ideal mesmo após contratempos”, disse Ho.
“Enquanto pesquisas anteriores frequentemente focavam no declínio, esta adiciona uma nova dimensão ao destacar o potencial de resiliência, recuperação e melhoria na terceira idade. Isso enfatiza que o envelhecimento pode incluir períodos de crescimento e renovação do bem-estar, não apenas perdas.”
E viver de forma saudável pode começar com o aumento do número de passos, afirmou a Joyce Oen-Hsiao, cardiologista da Yale Medicine, que não participou do estudo.
“Muitos dos meus pacientes idosos têm como passeio ir ao mercado. Então, eu digo: bem, não estacione na vaga mais próxima — talvez estacione em uma vaga um pouco mais distante. Dessa forma, você aumenta seus passos e fica um pouco mais ativo”, disse Oen-Hsiao, que também é professora associada de medicina cardiovascular na Escola de Medicina de Yale.
Independentemente da idade, você pode começar a fazer escolhas para ficar física e mentalmente mais saudável, afirmam os especialistas.
“Se você mentalizar que vai melhorar, que vai se sentir melhor, que vai se sair melhor, que vai alcançar seja lá o que estiver tentando alcançar, as chances de isso realmente acontecer aumentam significativamente”, afirmou Freeman.
Fonte: www.cnnbrasil.com.br
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