Professores revelam como referências visuais e musicais podem transformar argumentos e impulsionar a nota no texto dissertativo
Para conquistar uma nota de excelência na redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), o domínio da norma-padrão é apenas o ponto de partida. A banca avaliadora busca argumentação sólida, leitura crítica da realidade e, crucialmente, repertório sociocultural legitimado.
Nesse cenário, obras de arte — sejam pinturas, esculturas, filmes ou canções — aparecem como referências poderosas, capazes de enriquecer o texto e demonstrar uma bagagem cultural que pode impressionar.
Contudo, inserir arte na redação vai além de uma simples citação. Exige contextualização, uma conexão direta com o tema e a habilidade de usá-la como pilar para o desenvolvimento argumentativo.
“Frida Kahlo, por exemplo, pode ser evocada em discussões sobre identidade, diversidade, saúde mental e empoderamento”, afirma Gabriella Bracisievski, professora do Colégio Estadual Jorge Queiroz Netto, de Piraí do Sul (PR), sobre a pintora mexicana.
Mas, segundo Bracisievski, é imperativo justificar a escolha, tecendo a biografia e a obra da artista ao recorte temático da redação. “A pintora mexicana, afinal, simboliza a luta por autonomia, a resistência feminina e a valorização da subjetividade.
Livia Keiko Nagao, professora do colégio Positivo Master, de Ponta Grossa (PR), lembra que o brasileiro Cândido Portinari oferece um arsenal visual potente, explorando temas como trabalho, migração, pobreza e cultura popular. “Seu compromisso social e participação em projetos públicos o alçaram a uma referência nacional e internacional.”
Obras contemporâneas
Para a professora, o segredo reside na capacidade do estudante de interpretar a imagem e extrair dela um conceito aplicável ao argumento. Lívia e Gabriela também ressaltam a força das intervenções urbanas contemporâneas como forma de protesto, citando o britânico Banksy.
“Suas obras misturam sátira, crítica social e política, abordando desigualdade, guerra, consumo e liberdade”, afirma Lívia. “O artista anônimo transforma paredes e espaços públicos em instrumentos de reflexão e protesto”, diz Gabriela, que aposta em Banksy para temas de liberdade de expressão.
“Utilizar obras de arte na redação transcende a mera estética: é uma forma de sinalizar ao corretor que o estudante decifra o mundo com sensibilidade, senso crítico e uma rica bagagem cultural. Quando bem empregada, a arte eleva argumentos a expressões potentes — e pode ser o divisor de águas para uma nota máxima”, conclui Kayanna Pinter, professora do Colégio Semeador, em Foz do Iguaçu (PR).
Cultura musical ajuda
A música também se revela uma aliada estratégica. “Canções como ‘Cálice’, de Chico Buarque e Gilberto Gil, ou ‘Asa Branca’, de Luiz Gonzaga, estabelecem um diálogo profundo com temas como repressão, censura, desigualdade e deslocamento forçado”, diz Rodrigo Wieler, do curso e colégio Positivo, de Curitiba (PR).
Ele adverte, porém, contra o uso superficial: “Citar um verso famoso sem aprofundar seu significado é insuficiente. O estudante precisa contextualizar e integrar a canção à sua linha argumentativa.”
Guia rápido:
- Legitimidade é chave: opte por repertórios reconhecidos, como obras de Van Gogh, Frida Kahlo, Banksy, Portinari, Tarsila do Amaral, ou músicas de Chico Buarque, Elza Soares e Luiz Gonzaga.
- Contexto importa: apresente o autor, época, estilo e a intenção da obra, demonstrando sua compreensão.
- Conexão direta: use a arte como ponto de partida ou reforço argumentativo, explicando sua ligação com o problema em debate.
- Fuja do raso: não basta mencionar “Abaporu” ou “A Noite Estrelada”. Detalhe seu contexto e significado simbólico.
- Diversifique: explore filmes, músicas, pinturas, esculturas, fotografia e até grafite urbano, desde que pertinentes e bem articulados.
Fonte: www.cnnbrasil.com.br