A decisão do prefeito de Cuiabá, Abilio Brunini (PL), de iniciar a desapropriação da área do Contorno Leste para regularização fundiária, abriu um novo confronto político no estado. Enquanto parte da direita acusa o município de “premiar criminosos”, setores ligados ao governo federal defendem a medida como solução humanitária diante da impossibilidade de remover milhares de famílias carentes.
No sábado (29), Abilio anunciou que protocolará nesta segunda-feira (1º) o pedido formal de desapropriação para iniciar a regularização das moradias. A região, alvo de disputas judiciais e que quase foi desocupada há dois meses, teve permanência garantida após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). O anúncio do prefeito provocou reações imediatas.
Nas redes sociais, o deputado estadual Gilberto Cattani (PL) adotou o discurso mais radical. Em tom inflamado, comparou movimentos sociais como MST e até o grupo Hamas, afirmando que ambos usam “crianças, mulheres e idosos” como escudo humano, analogia que ele estendeu às famílias do Contorno Leste.
“Todo grupo terrorista tem um escudo humano. O MST, o Hamas. Eles Invadem propriedade, praticam terrorismo e colocam os mais vulneráveis na linha de frente. Agora querem regularizar para que passem o Natal tranquilos. Eu fico pensando na família do João Pinto, proprietário daquela área, assassinado a sangue frio dentro da sua propriedade. Os herdeiros estão sendo usurpados. Deus jamais vai apoiar injustiça. A injustiça é a invasão covarde da propriedade privada”, disse.
Em lado oposto do debate, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), defendeu publicamente a decisão de Abilio e reafirmou compromisso em ajudar com recursos federais para indenizar os proprietários e regularizar os lotes.
“Parabéns, prefeito Abilio. Tem que garantir segurança jurídica às famílias donas das terras, mas também é muito difícil remover tantas pessoas que não têm para onde ir. O equilíbrio é regularizar e indenizar os proprietários. Reafirmo meu compromisso de colocar emendas para que o senhor tenha fluxo financeiro suficiente para pagar os proprietários e dar dignidade às famílias”, disse em rede social.
Abilio tenta se colocar no centro da solução: “Separar o joio do trigo”
Na reunião com moradores no domingo (30), Abilio reforçou seu posicionamento social e disse que a decisão foi tomada por responsabilidade humanitária.
“Por mais que o mais correto fosse devolver a terra aos proprietários, não podemos ignorar que essas famílias não têm para onde ir. Investiram tudo que tinham aqui. Vamos separar o joio do trigo. Existem pessoas envolvidas em outros problemas, mas a maioria é carente. O mais importante agora é dar sossego para passarem o fim de ano com paz.”
O prefeito disse que a Justiça pagará os proprietários, garantiu que enviará um projeto de lei para viabilizar a desapropriação, e afirmou que ainda não recebeu nenhuma emenda parlamentar para ajudar no processo, recado velado ao governo federal e à bancada estadual.
O encontro reuniu vereadores, secretários municipais e lideranças dos bairros Jardim Esperança 1 e 2. Moradores relataram vulnerabilidade extrema: crianças com microcefalia e autismo, idosos, famílias que perderam renda e até registros recentes de morte por falta de atendimento.
Fonte: www.gazetadigital.com.br