O governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União), minimizou os impactos da fala em que atribui a dificuldade de combater o crime dentro das unidades prisionais a detenção de advogados e policiais penais com drogas, numa “resistência interna”, feita na semana passada. A Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Mato Grosso (OAB-MT) repudiou a declaração do gestor.
Em entrevista à imprensa, nesta segunda-feira (1), o governador afirmou que não entendeu a reprovação de sua fala, já que, segundo ele, tudo foi dito embasado a dados da Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso (SESP-MT), e a Secretaria de Justiça (Sejus).
“Eu quero entender porque falar a verdade gera repercussão negativa? Eu disse apenas um dado real apresentado pelas secretarias. 16 agentes foram presos, com atitudes ilícitas dentro do presídio. Isso gera repercussão negativa, dizer a verdade e dar dados concretos? Eu disse que advogados foram presos, ou detidos por atitudes ilícitas”, reforçou o governador.
Como mostrou o GD, na última semana, ao comentar os desafios do sistema penitenciário, o governador afirmou que há “resistência interna” que impede o avanço do enfrentamento às facções. Ele citou números de agentes prisionais presos e disse que 25 advogados teriam sido flagrados tentando entrar com drogas e celulares nos presídios. Na fala, o governador insinuou que esse tipo de conduta seria parte do motivo pelo qual “é difícil fazer a coisa certa”.
“Dominar o sistema prisional é não deixar elas se organizarem lá dentro. Olha o esforço que nós temos que ter para mudar a realidade ali. São 16 agentes prisionais presos, 25 advogados tentando entrar com drogas, entrar com celular dentro dos presídios. Olha como é difícil fazer a coisa certa, porque você tem um conjunto de atores que tenta resistir, que tenta barrar, porque acreditam que, se pegar, não vai dar nada não”, disparou.
A declaração gerou reação imediata da OAB-MT. Em nota oficial, a entidade repudiou as afirmações do governador, classificando-as como uma generalização indevida que atinge toda a classe dos mais de 37 mil advogados do estado. Para a instituição, relacionar a dificuldade no combate ao crime organizado à atuação da advocacia prejudica o debate qualificado sobre segurança pública e “representa indevida tentativa de associar a advocacia a práticas ilícitas”. A OAB-MT afirmou ainda que eventuais condutas individuais são rigorosamente apuradas e não refletem a atuação ética da categoria.
A entidade lembrou que a advocacia exerce função essencial à administração da Justiça, prevista no artigo 133 da Constituição Federal, e que preservar o exercício profissional com independência e respeito é fundamental para o Estado Democrático de Direito.
“Declarações que põem sob suspeita toda uma classe fragilizam o diálogo republicano e não se coadunam com a responsabilidade institucional exigida de agentes públicos”, diz trecho da nota.
Fonte: www.gazetadigital.com.br