Produto interno bruto e renda per capita mostram bolsões de qualidade de vida e cidades vulneráveis socialmente
Com renda per capita de R$ 50.663,19 Mato Grosso está acima da média nacional, de R$ 35.935,74 conforme mostra o IBGE com números relativos a 2020. Seu Produto Interno Bruto (PIB) é de R$ 178,6 bilhões (bi), sendo o 13º do país, com São Paulo na liderança com R$ 2,37 trilhões. Na outra ponta da planilha, os dois menores, Roraima, com R$ 16,02 milhões; e Acre, com R$ 16,47 milhões. Os dados mostram desníveis entre municípios mato-grossenses e até mesmo a existência de bolsões de riqueza e pobreza. É o Estado dos fortes contrastes entre o título de campeão nacional do agronegócio e a extrema miséria na fila dos ossinhos e na amargura de 150 mil famílias em vulnerabilidade social.
Em Mato Grosso o PIB de 30 dos 141 municípios supera um bilhão de reais. O maior é Cuiabá, com R$ 26,52 bi e o menor entre eles, Guarantã do Norte, com R$ 1,01 bi. Por ordem decrescente, os 10 maiores são: Cuiabá, R$ 26,52 bi; Rondonópolis, R$ 12,85 bi; Sorriso, R$ 9,11 bi; Várzea Grande, R$ 9,09 bi; Lucas do Rio Verde, R$ 5,81 bi; Primavera do Leste, R$ 5,18 bi; Campo Novo do Parecis, R$ 4,60 bi; Tangará da Serra, R$ 4,07 bi; Campo Verde, R$ 3,60 bi; e Diamantino, R$ 3,35 bi. O bolsão dos menores, de modo ascendente é formado por Araguainha, R$ 22,95 milhões (mi); Ponte Branca, R$ 27,26 mi; Luciara, R$ 34,95 mi; Novo Santo Antônio, R$ 49,02 mi; São José do Povo, R$ 51,90; e Serra Nova Dourada, R$ 49,05 mi.
Os números revelam bolsões de riqueza e de pobreza. No polo do agronegócio no Nortão e seu vizinho Chapadão do Parecis o bloco formado por Sorriso, Sinop, Lucas do Rio Verde, Nova Mutum, Sapezal, Nova Ubiratã, Diamantino, Campos de Júlio, Tangará da Serra, Brasnorte, Campo Novo do Parecis, Tapurah e Ipiranga do Norte tem PIB superior a um bilhão de reais, e Santa Rita do Trivelato quase chega a esse patamar. Por outro lado, no Vale do Araguaia, alguns municípios registram os piores desempenhos, a exemplo de Araguainha, Ponte Branca, Luciara, Novo Santo Antônio e Serra Nova Dourada.
O contraste é resultante do perfil econômico municipal. Os polos do agronegócio alcançam os maiores PIB e as melhores rendas per capita, ao passo que municípios que foram centros garimpeiros de ouro e diamante enfrentam desajustes sociais. Isso também se verifica com pequenos municípios vizinhos das grandes cidades e com as pequenas localidades isoladas, sem acesso à malha rodoviária pavimentada ou recém-incorporados a ela.
A renda per capita em Campos de Júlio, no Chapadão do Parecis, é de R$ 270.716,88; e em Santa Rita do Trivelato, no Nortão, de R$ 256.227,98; ambos são municípios com a economia calcada no agronegócio. Ex-centros garimpeiros, Alto Paraguai, espremido entre o Nortão e o Chapadão do Parecis, registra R$ 11.871,55; e no Vale do Araguaia, Ponte Branca crava R$ 17.712,12. Ao lado de Rondonópolis, São José do Povo tem a pior renda per capita: R$ 11.663,26; também próximo àquela cidade, São Pedro da Cipa registra R$ 14.028,32. No polo de Cuiabá, Barão de Melgaço não passa de R$ 12.777,31. Formando conturbação com Barra do Garças e a goiana Aragarças, Pontal do Araguaia alcança R$ 13.794,66. Municípios solados têm baixa renda: Cotriguaçu, R$ 13.243,36; Reserva do Cabaçal, R$ 16.073,11; Nova Bandeirantes, R$ 16.512,70; Colniza, R$ 17.712,12; Apiacás, R$ 17.758,77.
O isolamento do município desestimula investidores e sua economia é afetada. A integração das cidades à malha rodoviária é fundamental para o crescimento. Em dezembro de 2021 o governador Mauro Mendes anunciou a licitação para a construção de uma ponte com 1.429 metros de extensão sobre o rio Juruena, o que permitirá a ligação de Nova Bandeirantes com Cotriguaçu e Colniza, três municípios com baixa renda per capita. Essa obra criará um corredor Leste-Oeste via Mato Grosso encurtando a distância entre Rondônia e o Pará. Outras cidades que enfrentam problemas sociais com a reduzida renda per capita também precisam de infraestrutura e programas de fomento ao desenvolvimento, como acontece com Reserva do Cabaçal, na faixa de fronteira e situada fora do eixo das rodovias de integração regional. Reserva do Cabaçal dista 52 quilômetros de Araputanga, mas não tem acesso pavimentado a Rio Branco, na direção oposta a Araputanga, o que a isola tornando-a naquilo que se chama de fim de linha.
A produção agrícola não tem como ser deslocada dos grandes para os pequenos municípios no âmbito do PIB, mas o setor industrial que avança em Mato Grosso, sim. Esse tema ainda não entrou na pauta das discussões da Assembleia Legislativa.
Rondonópolis com R$ 12,85 bilhões é vizinha de São José do Povo, distante 40 quilômetros e com PIB de R$ 51,9 mi. A primeira tem forte representação política no Congresso e na Assembleia Legislativa, além de lideranças empresariais. Sua representação desenvolve permanente trabalho para atrair investidores e fábricas, enquanto a outra, sem voz, é mantida fora do processo desenvolvimentista. Com 3.700 habitantes as demandas de São José do Povo são pequenas. Uma indústria de médio porte ali instalada melhoraria a renda per capita e a qualidade de vida. Porém, em Mato Grosso a concentração industrial nos principais polos é visível.
A população mato-grossense nos 141 municípios é de 3.567.234 habitantes e sua densidade populacional é de 3,36 habitantes por quilômetro quadrado. A economia estadual lidera nacionalmente a produção de algodão, soja e milho; tem o maior rebanho bovino; ocupa lugar de destaque na produção de etanol, biodiesel, óleo de soja, frango, arroz, diamante, madeira, ouro e açúcar. Cuiabá tem 623.614 habitantes, e somente Várzea Grande, Rondonópolis e Sinop ultrapassam 100 mil residentes. Ainda assim, e apesar dos bons indicadores sociais do PIB e da renda per capita, há alguns anos uma fila de carentes à espera da distribuição gratuita de ossos bovinos por um açougue cuiabano revela que algo não vai bem no aspecto social. Se a fila não bastasse, outro argumento, esse muito mais forte ainda, aponta que 150 mil famílias se encontram em vulnerabilidade social em Mato Grosso. Considerando-se que em média cada família tem cinco integrantes, o número de carentes chega a 750 mil ou 21% dos mato-grossenses dependem de programas de transferência de renda e doações para conseguirem o pão de cada dia.
Fonte: diariodecuiaba