Os resultados parciais da eleição presidencial da Turquia apontam uma disputa voto a voto, com o atual presidente, Recep Tayyip Erdogan, levemente abaixo da marca de 50% dos votos, seguido por uma diferença de apenas quatro pontos percentuais pelo líder oposicionista Kemal Kilicdaroglu. Se ao final da contagem nenhum dos dois ultrapassar os 50%, a eleição presidencial terá um segundo turno.
No momento, apenas 69% das urnas foram apuradas. Mas, contagens não oficiais feitas por duas agências de notícias, uma ligada ao governo e outra, privada, mais próxima da oposição, com base em mais de 90% das urnas, indicam que Erdogan tem 49,8% ou 49,02% dos votos e seu adversário, Kilicdaroglu, 44,4% ou 45,2%.
Pelo calendário eleitoral, um eventual segundo turno ocorrerá em 28 de maio.
O resultado da eleição é encarado como crucial para o futuro político da Turquia, que é comandada por Erdogan há 20 anos. Em duas décadas, o líder turco deu uma guinada autoritária e conservadora-religiosa nesse país de 85 milhões de habitantes, que também se afastou do Ocidente e se aproximou da Rússia.
Um dos maiores símbolos do processo de combate à moderna tradição turca do secularismo lançado por Erdogan foi a reconversão da histórica Hagia Sophia, um museu em Istambul desde 1935, em uma mesquita. Em 1935, com o processo de modernização e secularização do país, ela havia sido transformada em um museu.
“Sentimos falta da democracia”, declarou o opositor Kilicdaroglu, de 74 anos, com um sorriso neste domingo, ao votar. “Vocês vão ver. A primavera vai voltar para este, se Deus quiser, e vai durará para sempre”, acrescentou, referindo-se a um de seus “slogans” de campanha.
Kilicdaroglu diz que tentará devolver a Turquia ao sistema parlamentar de governança, que foi substituido pelo presidencialismo por Erdogan em 2017. Ele também prometeu restaurar a independência do Judiciário. A Human Rights Watch, em seu Relatório Mundial 2022, apontou que o governo de Erdogan retrocedeu os direitos humanos na Turquia em décadas.
Já Erdogan compareceu à sua seção eleitoral em Üsküdar, um bairro conservador de Istambul, para votar, desejando “um futuro próspero para o país e para a democracia turca”. Durante sua campanha, Erdogan apostou na memória de conquistas passadas e também direcionou ataques à oposição e lançando acusações contra outros países. Tentando atiçar sua base ultraconservadora, ele também acusou a oposição de apoiar direitos LGBTQ.
No momento, a economia turca vai mal. Recentemente, a política econômica volátil de baixas taxas de juros do governo desencadeou uma espiral de crise do custo de vida e inflação. A resposta lenta de seu governo a um terremoto devastador em fevereiro no sudeste da Turquia, que matou 50.000 pessoas, também aumentou a insatisfação entre os eleitores.
Uma vitória ou derrota de Erdogan, de 69 anos, também terá repercussões além da Turquia. Membro da Otan, a Turquia de Erdogan se afastou e manteve relações tensas com aliados, como os EUA e a Alemanha nos últimos anos. Milhares de presos políticos e ativistas também podem ser libertados se a oposição prevalecer.
Em 2018, na última eleição presidencial, Erdogan venceu no primeiro turno com mais de 52,5% dos votos.
Fonte: dw.com