Trabalho piloto teve orientação de médico brasileiro e mostra que o impacto dos ultraprocessados pode ocorrer já no nível epigenético
Um novo estudo descobriu que o consumo de alimentos ultraprocessados pode causar danos químicos ao DNA que alteram a expressão gênica. O trabalho, orientado por um médico brasileiro, foi publicado na revista científica Nutrients, na segunda-feira (3).
O trabalho avaliou 30 mulheres e tiveram suas dietas divididas conforme a classificação NOVA. A dieta foi medida por registro alimentar de três dias e as análises epigenéticas utilizaram DNA de leucócitos do sangue periférico, com sequenciamento de nova geração.
A pesquisa identificou 80 regiões diferencialmente metiladas do DNA de mulheres com alto consumo de alimentos ultraprocessados, em comparação às que consumiam menos desses produtos. Isso significou que o DNA dessas mulheres sofreu uma modificação química que altera a expressão gênica, sem modificar a sequência do DNA.
Segundo o estudo, a maioria dessas regiões mostrou-se hipometilada no grupo de maior ingestão. Esse fenômeno significa que pode haver uma ativação de genes que normalmente estariam silenciados, causando desequilíbrio genômico.
Além disso, de acordo com o estudo, sugere-se um possível mecanismo epigenético (mudanças na expressão gênica que não alteram a sequência do DNA, mas que podem ser herdadas e são influenciadas pelo ambiente e pelo estilo de vida), que ajuda a explicar a já conhecida associação entre ultraprocessados, obesidade e doenças crônicas não transmissíveis (entre elas, câncer).
“Nossos achados reforçam a hipótese de que o impacto dos ultraprocessados pode ocorrer já no nível epigenético, modulando a metilação do DNA e, potencialmente, a expressão gênica”, explica Marcio Mancini, endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP).
“É um estudo piloto, com amostra pequena, mas que abre caminho para pesquisas maiores e longitudinalmente desenhadas, capazes de demonstrar causalidade”, completa.
Segundo o especialista, essas alterações químicas no DNA podem representar um elo biológico entre dieta e riscos cardiovasculares e metabólicos.
Apesar dos resultados, trata-se de um estudo piloto e com pequena amostra de participantes, o que não atesta causalidade. Por isso, estudos maiores devem ser realizados.
“A mensagem prática continua válida: reduzir ultraprocessados e priorizar alimentos in natura e minimamente processados é uma estratégia consistente para promoção da saúde”, afirma Mancini.
Fonte: www.cnnbrasil.com.br