CIÊNCIA: O que são terras raras e por que elas são tão importantes

CIÊNCIA:   O que são terras raras e por que elas são tão importantes
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De smartphones a aviões de combate, elementos de terras raras (ETR) são onipresentes nas tecnologias modernas. Governo americano expressa interesse em reservas do Brasil em meio à disputa comercial.

Praseodímio custa cerca de US$ 55 por quilo

disputa comercial entre os Estados Unidos e o Brasil começou a ganhar novos contornos na quinta-feira (24/07) após a revelação de que representantes diplomáticos norte-americanos comunicaram que a Casa Branca tem interesse em minerais críticos e estratégicos em solo brasileiro. Entre esses minerais estão os chamados elementos de terras raras (ETR).

O interesse dos EUA foi expressado durante um encontro do encarregado de negócios da embaixada norte-americana e representantes brasileiros do setor de mineração nesta semana. As conversas ocorreram num momento de tensão entre os governos dos EUA e do Brasil, em meio à ameaça do presidente Donald Trump de impor um tarifaço de 50% a produtos brasileiros a partir de agosto.

Participantes da reunião afirmaram que não interpretaram as falas do encarregado norte-americano como uma tentativa de condicionar uma negociação para um alívio das tarifas ao acesso aos minerais. Porém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva rapidamente afirmou que não permitirá interferência estrangeira em como o Brasil lida com a exploração de minerais. “Aqui ninguém põe a mão”, disse Lula na quinta-feira.

O Brasil possui grandes reservas de cobre, níquel, nióbio e lítio, além da segunda maior reserva mundial de terras raras.

No primeiro semestre, os EUA já haviam pressionado a Ucrânia a assinar um acordo para a exploração de terras raras no país do leste europeu, em meio a ameaças da Casa Branca de cortar sua assistência militar para os ucranianos.

O que são terras raras

Terras raras são um grupo de 17 elementos químicos com um papel pequeno, porém insubstituível, em diversos produtos tecnológicos modernos: smartphones, televisores de tela plana, câmeras digitais e LEDs dependem todos delas.

Porém seu emprego mais importante é na fabricação de ímãs permanentes, de alta potência e que mantêm suas propriedades magnéticas por décadas. Eles permitem a produção de peças menores e mais leves do que as alternativas não baseadas em terras raras, sendo portanto essenciais na construção de veículos elétricos e turbinas eólicas.

Os elementos de terras raras (ETR) são também vitais para uma grande gama de tecnologias de defesa, de aviões de caça a submarinos e telêmetros a laser. Essa importância estratégica, tanto para o comércio como para a defesa, é o que os torna tão valiosos. O quilo de neodímio e praseodímio, os ETRs mais importantes para os ímãs permanentes, atualmente custa cerca de 55 euros (R$ 353); o de térbio, até 850 euros (R$ 5.460). Para efeito de comparação, o preço do quilo do nada raro minério de ferro custa atualmente cerca de R$ 0,60.

Com base em seu peso atômico, esses 17 minerais são categorizados como leves, médios e pesados. Na realidade, eles não são “raros”, pois estão presentes residualmente por todo o mundo. O desafio é identificar onde sua concentração é bastante grande para que a extração seja financeiramente viável. Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), atualmente 70% das terras raras utilizadas provêm de minas da China.

A mais importante é Bayan Obo, no norte do país: contendo enormes quantidades de todos os elementos empregados em ímãs permanentes, essa fonte é várias ordens de grandeza maior do que os demais depósitos de terras raras do planeta, como Monte Weld, na Austrália, ou Kvanefjeld, na Groenlândia.

Porto de Lianyungang, província de Jiangsu, é um dos pontos de exportação de ETRs da China

Monopólio chinês preocupa Ocidente

Depois de extraídos, os elementos de terras raras são submetidos a um processo altamente especializado de separação e refinação até transformar-se em compostos utilizáveis. Como esse processamento ocorre em grande parte na China, o país é também o maior produtor de ímãs.

Esse monopólio é ainda mais forte para certos tipos de ETRs. Os leves são menos valiosos e mais fáceis de extrair, com a exceção do neodímio e do praseodímio: entre 80% e 100% dos suprimentos da União Europeia desse grupo vêm da China; enquanto para os elementos mais pesados a dependência é de 100%.

Extração de terras raras na Goenlândia pode liberar material radioativo

Esse monopólio deixa diversos Estados ocidentais preocupados com o acesso futuro. Nos últimos anos, americanos e europeus reagiram com a formação de reservas internas de terras raras e outros materiais críticos.

Em 2024 a UE assinou a Lei de Matérias Primas Críticas, estabelecendo metas não vinculativas para o volume que o próprio bloco deverá ter produzido até o ano 2030. A legislação também prevê a designação de “projetos estratégicos”, tanto internos como com aliados próximos como a Noruega, visando garantir acesso a financiamento, aumentar a aceitação pública e agilizar aprovações e licenças.

Por sua vez, desde 2020 o Departamento de Defesa dos EUA vem investindo fortemente em companhias nacionais e tem como meta criar até 2027 uma cadeia de suprimento “da mina ao ímã”. Gálio, germânio e antimônio estão entre as terras raras mais importantes para o país.

A UE e os EUA expressam ainda interesse em fontes não exploradas desses minerais estratégicos. O presidente Donald Trump tem visado a Ucrânia e a Groenlândia: ambas apresentam potencial para grandes depósitos, porém de difícil acesso. Assim, o futuro do abastecimento de elementos de terras raras para os países ocidentais permanece incerto.

Fonte:    www.dw.com.br


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