A construção de uma rotina saudável vai muito além da busca por um corpo ideal ou de metas estéticas. Ela está diretamente ligada ao bem-estar emocional e psicológico. A ciência já comprovou que a repetição de comportamentos molda o cérebro, órgão que, como demonstrou o médico espanhol Ramón y Cajal, possui uma característica fundamental: a plasticidade.
Apesar disso, ainda é comum que muitas pessoas tenham dificuldade em incorporar hábitos simples e positivos no dia a dia. Circunstâncias pessoais podem facilitar ou dificultar esse processo, mas, segundo especialistas, buscar dentro das próprias possibilidades maneiras de se cuidar faz diferença real no bem-estar.
Nas redes sociais, relatos sobre essa busca são constantes:
- Pessoas que acordam mais cedo para se exercitar mesmo com a agenda cheia;
- Mães e pais que equilibram rotina familiar e prática esportiva;
- Trabalhadores que optam por levar refeições saudáveis para evitar o consumo de ultraprocessados;
- Quem estaciona o carro mais longe para caminhar um pouco mais;
- Quem decide abandonar o cigarro ou reduzir o álcool;
- Aqueles que deixam o celular de lado à noite para melhorar a qualidade do sono.
Para a especialista Silvia Congost, o cenário atual coloca mais um desafio. “Vivemos em uma sociedade que nos induz e empurra para o materialismo, para a necessidade de ter mais e melhor, corpos perfeitos, vidas perfeitas, pares perfeitos e um nível econômico mais que perfeito”, afirma à revista Elle. Segundo ela, essa pressão constante afasta as pessoas de um cuidado mais realista, possível e gentil consigo mesmas.
Ainda assim, a especialista defende que a mudança começa antes do momento ideal. “A princípio esperamos encontrar-nos bem e que nossas circunstâncias sejam perfeitas para nos cuidarmos e não nos damos conta de que, se começarmos a nos cuidar, nosso estado psicológico e emocional também melhoraria. Melhoraria tudo”, diz.
A ideia central é simples: hábitos são determinantes. Identificar quais deles estão presentes na rotina e quais precisam ser incorporados é o primeiro passo para transformar o bem-estar de forma consistente.
A ciência do comportamento reforça o que intuitivamente já sabemos: mover o corpo, praticar exercícios dentro das possibilidades, caminhar mais, subir escadas ou fortalecer os músculos são atitudes que melhoram tanto a saúde física quanto o humor. Da mesma forma, escolhas alimentares mais conscientes e o afastamento de ambientes tóxicos contribuem para mais autoestima e estabilidade emocional.
O desafio, no entanto, está na mudança. “No início, devemos ser conscientes de que implicará para nós uma enorme disciplina, constância, esforço e compromisso”, explica. O cérebro tende a sabotar o processo com cansaço aparente, preguiça ou busca por prazeres imediatos. Mas a neurociência já demonstrou repetidas vezes que a transformação de hábitos traz benefícios que superam o esforço inicial.
A especialista lembra ainda que quem não cresceu em um ambiente que valorizava o autocuidado pode encontrar mais obstáculos, mas isso não torna o processo impossível. “Insisto, os hábitos nos definirão e tenderemos a alterá-los e isso não é fácil. Mas insistir mais no que quer que seja, é possível.”