Gustavo Petro toma posse como presidente da Colômbia

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Primeiro presidente de esquerda do país, ele promete perseguir um capitalismo ecológico-social. Conheça a trajetória do ex-guerrilheiro e ex-prefeito de Bogotá, e desafios que tem pela frente

Ele conseguiu. Em sua terceira tentativa, o político colombiano Gustavo Petro, de 62 anos, venceu as eleições presidenciais e tomou posse neste domingo (07/08). Como candidato de consenso para grande da esquerda, o pai de cinco filhos e economista prevaleceu no segundo turno com 50,5% dos votos totais contra o empresário Rodolfo Hernández.

“Prometo a Deus e prometo ao povo cumprir fielmente a Constituição e as leis da Colômbia”, disse Petro em seu juramento perante o presidente do Congresso, Roy Barreras. Seu primeiro ato de governo foi determinar que a espada de Simón Bolívar, considerado um libertador anticolonialista por diversos países da América Latina e símbolo de sua luta política, fosse levada ao palanque onde era realizada a cerimônia de posse.

Como o nome da aliança eleitoral – Pacto Histórico – promete, a vitória eleitoral de Petro pode realmente marcar um ponto de inflexão na história colombiana. Ele é o primeiro presidente de esquerda da República da Colômbia.

Por quase 140 anos, presidentes de partidos conservadores ou liberais sempre conduziram o destino do país. Enquanto em muitas nações latino-americanas partidos de esquerda já haviam conquistado o poder, a maioria colombiana permaneceu cética em relação às ideias desse espectro político.

As experiências com os vários grupos guerrilheiros que tentaram mudar as relações de poder e propriedade do país pela força desde meados do século 20 foram muito traumáticas – sobretudo com as Farc, com as quais o governo colombiano concluiu um tratado de paz em 2016.

Um jovem na guerrilha

É ainda mais surpreendente que os colombianos tenham agora escolhido um ex-guerrilheiro como seu chefe de Estado. Filho de um professor, Gustavo Petro cursou economia em uma universidade particular. Durante seus estudos, entrou para o movimento Movimiento 19 de Abril.

O movimento havia sido fundado em 1970 depois que o candidato da esquerdista Aliança Nacional Popular, Gustavo Rojas Pinilla, foi privado da vitória por meio de uma suposta fraude eleitoral.

A partir de então, Petro levou uma vida dupla, por assim dizer: Após completar seus estudos, tornou-se funcionário da cidade colombiana de Zipaquirá em 1980, e mais tarde foi eleito vereador da cidade. Ao mesmo tempo, ele estava envolvido no M-19 como coronel Aureliano, codinome que deu a si mesmo inspirado em um personagem do romance Cem Anos de Solidão, de seu compatriota e ídolo, o prêmio Nobel Gabriel García Márquez

Durante esse período, o M-19 cometeu diverso crimes, incluindo sequestros, assassinatos e ataques a instalações militares e policiais. Não se sabe em quantos desses casos Petro estaria envolvido. A Justiça da Colômbia ainda não analisou os centenas de crimes cometidos pelo M-19.

Para mudar isso, o jornalista colombiano François Roger Cavard diz ter coletado provas de 40 desses crimes e entrou com ações judiciais. Uma delas foi recentemente admitida pela Audiência Nacional da Espanha. Nela, Gustavo Petro é acusado de envolvimento no sequestro em 1981 do jornalista espanhol Fernando González Pacheco, que morreu em 2014.

Sabático diplomático na Bélgica

Petro já foi a julgamento antes como guerrilheiro: em 1985, ele foi preso por posse ilegal de armas, torturado e condenado a 18 meses de prisão por conspiração. Quando o M-19 depôs suas armas em 1990 e se tornou o partido político Aliança Democrática M-19, Petro disputou e venceu uma cadeira na Câmara dos Deputados.

Sua tentativa de reeleição, em 1994, não foi bem sucedida. Depois de receber inúmeras ameaças de morte, Petro optou por ser enviado à Bélgica como diplomata nos anos 90. Após seu retorno, ele entrou novamente no Congresso – primeiro como deputado, depois como senador.

Ele ganhou notoriedade sobretudo ao expor as conexões do então presidente Álvaro Uribe com a organização terrorista de direita Forças Unidas de Autodefesa da Colômbia (AUC), o que lhe trouxe inúmeros processos.

Provavelmente devido a esse sucesso, ele se tornou o candidato do partido de esquerda moderada Polo Democrático Alternativo (PDA) na disputa presidencial de 2010, mas desistiu no primeiro turno. Dois anos depois, ele venceu a eleição para prefeito de Bogotá.

No cargo, ele impôs controles mais rígidos sobre armas na capital, fortaleceu o transporte público e criou um secretariado feminino e um ponto de contato central para a comunidade LGBT. Sobretudo, ele apoiou os setores mais pobres da população com programas sociais.

Capitalismo ecológico-social?

Nas eleições presidenciais de 2018, Petro perdeu no segundo turno para o agora extremamente impopular presidente Iván Duque. Neste ano, ainda mais do que na disputa anterior, ele entrou na corrida com um programa eleitoral de esquerda moderada. O economista se pronunciou a favor de uma maior tributação das empresas e quer limitar a exploração ambientalmente danosa de recursos minerais.

Ao mesmo tempo, não deve haver expropriação de propriedade privada sob sua presidência. Ele fez um juramento registrado em cartório sobre isso. Embora o documento provavelmente não seja juridicamente vinculante, o sinal político foi claro.

Com Francia Márquez, Petro terá uma conhecida ambientalista e ativista dos direitos humanos como vice-presidente.

“A Colômbia não precisa de socialismo, precisa de democracia”, disse Petro ao diário espanhol El Pais em setembro passado. E, durante seu discurso de vitória, ele falou a seus apoiadores extasiados: “Queremos desenvolver o capitalismo na Colômbia”. Segundo Petro, isso deveria incluir “justiça ambiental”, assim como justiça social.

Será que Petro conseguirá unir a Colômbia?

A terceira mensagem principal, que Petro também repetiu na noite das eleições, é uma questão perene na Colômbia: a paz. Esse objetivo une a esmagadora maioria das pessoas no país, mas uma maioria estreita parece pensar que ele é o presidente certo para alcançá-lo.

Muitos apoiadores de seu oponente nas eleições temem que Petro queira transformar a Colômbia em outra Venezuela, ao contrário de suas promessas. A maioria dos analistas concorda que sua vitória eleitoral é um marco histórico. A direção que essa reviravolta terá está agora nas suas mãos

Fonte:    dw.com


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