O ano de 2025 ficará marcado por um temor silencioso que se espalhou pelo Brasil: a intoxicação por metanol presente em bebidas alcoólicas adulteradas. O surto começou a chamar atenção no fim de agosto, quando unidades de saúde de São Paulo registraram os primeiros atendimentos suspeitos.
Em setembro, o cenário ganhou contornos dramáticos com a primeira morte confirmada no país, também em São Paulo, e logo se expandiu para outros estados, entre eles Mato Grosso. 4 mato-grossenses morreram devido à intoxicação.
A substância responsável pelo surto, o metanol, é um solvente industrial altamente tóxico. Quando ingerido, inalado ou absorvido pela pele, ele é transformado pelo fígado em formaldeído e ácido fórmico, compostos capazes de provocar danos graves ao organismo. Os sintomas podem surgir entre 6 e 72 horas após o consumo da bebida contaminada e vão desde náuseas e desconforto gástrico até alterações visuais, rebaixamento de consciência, coma e morte.
Por sua gravidade, a situação passou a ser tratada como um evento de saúde pública, exigindo maior vigilância e resposta rápida dos serviços de saúde de todo o país.
Cenário nacional
Entre 26 de setembro e 5 de dezembro, o Brasil registrou 890 notificações relacionadas à intoxicação por metanol: 73 casos confirmados, 29 suspeitos em análise, 788 descartados.
Os estados mais afetados foram:
São Paulo – 578 notificações; 50 confirmados
Pernambuco – 109 notificações; 8 confirmados
Paraná – 6 confirmados
Mato Grosso – 6 confirmados
Bahia – 2 confirmados
Apesar de números menores que os de São Paulo, Mato Grosso enfrentou casos de grande repercussão e desfechos trágicos.
A trajetória do metanol em Mato Grosso começou em 22 de outubro, quando um jovem de 24 anos, morador de Várzea Grande, recebeu confirmação laboratorial da intoxicação. O caso ganhou atenção pela gravidade: ele sofreu lesão ocular irreversível, uma das consequências mais devastadoras do metanol.
A primeira morte em Mato Grosso
Poucas semanas depois, o estado registrou seu momento mais crítico. Em 13 de novembro, a Secretaria Estadual de Saúde confirmou o primeiro óbito por metanol em Mato Grosso.
A vítima, uma mulher de 30 anos, moradora de Várzea Grande, começou a passar mal após consumir cerveja em uma festa no dia 2 de novembro. Nos dias seguintes, ingeriu novamente cerveja e whisky, e logo apresentou náuseas e vômitos.
No dia 6 de novembro, o exame toxicológico confirmou a presença de metanol. Mesmo hospitalizada, a paciente não resistiu.
Dois casos em Itanhangá e novo óbito
O medo voltou a crescer em novembro, quando dois moradores de Itanhangá (150 km ao Norte) um rapaz de 26 anos e sua sogra, de 42, foram atendidos após consumirem whisky supostamente contaminado.
O jovem apresentou sintomas moderados e recebeu alta. Já a mulher teve piora progressiva, incluindo perda da visão, e morreu dias depois.
O avanço do surto continuou a se expandir com o registro de novos casos em diferentes regiões do estado. De Nova Brasilândia (215 km ao Sul), um paciente do sexo masculino, de 33 anos, foi internado em Cuiabá após ter o caso confirmado em 17 de novembro; ele chegou a receber o antídoto, mas evoluiu para óbito em 7 de dezembro.
Natural de Querência (945 km a Nordeste), um homem de 24 anos foi internado em Barra do Garças (509 km a Leste), teve o exame confirmado em 18 de novembro e não chegou a receber o antídoto, morrendo em decorrência de intoxicação exógena.
Com o aumento das ocorrências, Mato Grosso precisou agir rápido. Em 16 de novembro, Cuiabá recebeu 28 ampolas de fomepizol, o antídoto utilizado no tratamento de intoxicação por metanol.
As doses foram enviadas à farmácia de emergência do Hospital Municipal de Cuiabá (HMC), referência no atendimento pelo SUS. O medicamento é essencial porque impede que o metanol seja metabolizado em compostos tóxicos.
Atualmente, o estado monitora: 3 casos em investigação, 3 pacientes internados, 5 que já receberam o antídoto.
A intoxicação por metanol transformou 2025 em um ano de alerta nacional. O surto revelou a fragilidade do controle sobre bebidas adulteradas, a importância da vigilância epidemiológica ativa e a necessidade de ampliar o acesso rápido ao antídoto, muitas vezes decisivo para salvar vidas.
Em Mato Grosso, cada caso teve impacto profundo nas famílias e nas equipes de saúde que enfrentaram uma situação inédita.
Fonte: www.gazetadigital.com.br