O governador Mauro Mendes não escondeu: a Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá será fechada. O argumento oficial é que manter um prédio alugado por cerca de R$ 500 mil por mês não faz sentido – afinal, disse ele, “comprou casa, sai do aluguel”. As atividades serão “transferidas” para o novo Hospital Central ou outras unidades da rede estadual, prometendo que ninguém ficará desassistido.
Mas por trás da retórica técnica há uma decisão fria e distante da realidade. A Santa Casa, administrada pelo Estado desde 2019 após crise financeira, atende procedimentos vitais — quimioterapia, partos de risco, UTIs e cirurgias complexas. Com o prédio penhorado para pagar R$ 50 milhões em dívidas trabalhistas (860 ex-funcionários afetados), o governo lava as mãos, dizendo que “não é responsabilidade do Estado assumir o imóvel”.
A Assembleia Legislativa, o Ministério Público, sindicatos, deputados e conselheiros do Tribunal de Contas pugnam pela manutenção da unidade. O prefeito de Cuiabá chegou a insinuar que usaria recursos públicos — municipais ou federais — para arcar com a compra ou aluguel, sem sucesso. Enquanto isso, o TRT já prepara o leilão do prédio, avaliado em R$ 78 milhões.
O que dizem os números
- Aluguel atual da Santa Casa: ~R$ 500 mil/mês
- Dívida trabalhista: ~R$ 50 milhões – R$ 43,7 milhões ainda não quitados
- Leitos sob ameaça: 218 (177 enfermaria, 41 UTIs, 10 salas cirúrgicas)
A alegação de eficiência administrativa soa mais a decisão de um gestor que prioriza custo sobre vidas. Fechar uma referência histórica de 200 anos, que atende os mais vulneráveis, sem garantir transição segura, é negligência. O discurso de “transferência” não resolve as dores — migra pacientes, corta trajetória e atropela processos urgentes.
Mauro Mendes, em vez de liderar construção de solução pública ou dialogar com municípios e TRT, escolheu sair da “casa alugada” sem se preocupar com quem dorme na rua. Essa postura evidencia um modelo de gestão dissonante da promessa de combate à desigualdade feita em sua posse. Era o momento de assumir compromissos concretos: comprar, transferir equipamentos, garantir continuidade. Mas o governo preferiu a medida técnica que não responde à urgência da população.
A narrativa oficial de que “ninguém será prejudicado” não se sustenta diante de histórico e sensibilidade humana. A Santa Casa não é um aluguel descartável — é uma tábua de salvação para quem não pode esperar o novo hospital nascer. E nascerá quando? Setembro? Final de 2025? Até lá, quantas vidas estarão em risco?
Mauro Mendes está pagando o aluguel, mas atrasando a vida dos cuiabanos. Seja por omissão ou cálculo, o resultado é abandono institucional em plena carestia médica. A sociedade precisa reagir: mobilização, ruas, cobrança real — antes que a próxima tragédia seja irreversível.
Fonte: www.jornaloeste.com.br