O Sertanejo de Mentira e o Silêncio da Verdadeira Música Brasileira

O Sertanejo de Mentira e o Silêncio da Verdadeira Música Brasileira
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Milhões desviados da educação e da saúde viram cachês de artistas fabricados pela indústria cultural.

Há algo de profundamente errado quando o som que domina os palcos do país não representa o povo que canta, trabalha e sofre. O chamado sertanejo universitário é o exemplo mais cruel dessa distorção: um produto criado em laboratório, embalado como cultura popular, mas sustentado pela engrenagem milionária da indústria do entretenimento.

Esses artistas, que se dizem herdeiros do sertão, nada têm de raiz ou autenticidade. O que vendem é o agronegócio do som: letras rasas, melodias idênticas, refrões prontos para o consumo de massa e uma imagem cuidadosamente produzida de um Brasil inventado. Tudo isso financiado com dinheiro público.

Sim, dinheiro público.
Grande parte desses cachês milionários vem das chamadas emendas parlamentares, recursos que deveriam ser destinados à saúde, à educação e a programas sociais — mas acabam irrigando eventos superfaturados, bancando camarotes, fogos e luxos de artistas já ricos. Enquanto faltam remédios nos postos de saúde e professores enfrentam salas superlotadas, prefeitos e deputados ostentam shows pagos com o dinheiro do povo.

O resultado é trágico: a verdadeira música brasileira — o samba, o choro, a moda de viola, o frevo, o maracatu, o coco, a canção que nasce do povo — é empurrada para os cantos, sem espaço, sem patrocínio, sem voz. O rádio, antes mensageiro da cultura, virou vitrine de produtos.

O sertanejo de mentira virou símbolo de um país que se acostumou a trocar arte por espetáculo, cultura por comércio e identidade por marketing.

Mas ainda há resistência — nos músicos que criam sem se vender, nos compositores que escrevem por amor à canção, nos ouvintes que buscam verdade no meio do ruído.
Porque o Brasil real, o que canta com alma e esperança, ainda existe.
E é dele que renascerá, um dia, a verdadeira música brasileira.

Aqui vão alguns exemplos concretos de municípios que utilizaram recursos de emendas parlamentares (às vezes chamadas “emendas Pix” ou “transferências especiais”) para shows com artistas de grande porte — ao lado de alguns dos nomes dos artistas contratados. Importante frisar: em nenhum destes casos foi necessariamente identificada ilegalidade específica (em muitos casos a destinação é legal), mas há forte indício de uso político-estratégico ou de prioridades questionáveis.

Exemplos de cidades + artistas

  • Pirapetinga (MG) — Cidade de cerca de 11 mil habitantes. Segundo levantamento, recebeu cerca de R$ 600 mil de emenda parlamentar enviada por deputado, que foi usada para shows das duplas Matheus & Kauan e João Neto & Frederico. Estado de Minas+3Jornal do Brasil+3Correio de Minas+3
  • Vespasiano (MG) — Município na Região Metropolitana de Belo Horizonte que liderou o ranking no estado: cerca de R$ 2,6 milhões em 13 shows entre 2023-24. Artistas citados: César Menotti & Fabiano, Barões da Pisadinha e Padre Fábio de Melo. Plox+2Estado de Minas+2
  • Itambacuri (MG) — No Vale do Rio Doce. Um dos repasses: cerca de R$ 340 mil para show do Amado Batista em 2023. Plox
  • Alpercata (MG) — Município sem hospital municipal segundo levantamento, que destinou aproximadamente R$ 860 mil em emendas para shows. Artistas citados: Israel & Rodolffo e Babado Novo. Plox+1
  • Em outro estado: Maracanaú (CE) — Um exemplo mais antigo (2017) onde uma emenda parlamentar (via Ministério do Turismo) liberou cerca de R$ 1,2 milhão para festa junina da cidade, e o show de Wesley Safadão foi pago com parte desses recursos. VEJA

O que esses casos revelam

  • As emendas parlamentares, especialmente do tipo “uso livre” ou “transferência especial”, permitem que parlamentares indiquem verbas às prefeituras com poucas exigências de destino. TV Cultura+2Plox+2
  • Municípios pequenos ou com recursos limitados (alguns sem hospital municipal) têm utilizado parte significativa dessas verbas para contratar shows de grandes artistas, em vez de destinar prioritariamente a áreas como saúde ou educação. Estado de Minas+1
  • Há concentração desses gastos em anos eleitorais — o que sugere que o evento não é necessariamente para atender demanda social, mas pode ter função política eleitoral. Plox

Aqui estão alguns dos casos documentados de municípios que utilizaram recursos de emendas parlamentares (também chamadas “emendas Pix” ou transferências especiais) para contratação de shows — com valores aproximados, nomes de artistas e municípios. Esses dados servem como exemplo para você usar como referência em relatório ou citação.

⚠️ Importante: Em nenhum dos casos abaixo foi necessariamente identificada uma decisão judicial que considere irregular o uso desses recursos — o que se questiona é a prioridade, transparência ou proporcionalidade do gasto.

Município (Estado) Valor estimado de emendas para shows Artistas citados / Atrações Observações
Pirapetinga (MG) ~ R$ 600 mil para atração principal + ~R$ 2,1 milhões total contratados entre 2023-24. Jornal do Brasil+1 Matheus & Kauan, João Neto & Frederico Cidade de ~11 mil hab., uso de emenda parlamentar do deputado citado. Jornal do Brasil
Vespasiano (MG) ~ R$ 2,6 milhões para 13 apresentações entre 2023-24. Jornal do Brasil+1 César Menotti & Fabiano, Barões da Pisadinha, Padre Fábio de Melo Município da Região Metropolitana de BH. Altíssimo gasto relativo ao tamanho e à função do recurso.
Itambacuri (MG) ~ R$ 340 mil para show do Amado Batista em 2023. Jornal do Brasil Amado Batista Município menor (Vale do Rio Doce) — contratou show caro via emenda parlamentar.
Alpercata (MG) ~ R$ 860 mil destinados a shows em cidade que não possui hospital municipal. Correio Braziliense+1 Israel & Rodolffo, Babado Novo Situação controversa: município sem hospital, e mesmo assim valor alto para entretenimento.
Sobrália (MG) ~ R$ 850 mil para dois shows. Estado de Minas+1 Leonardo, Marcos & Belutti Gasto elevado para porte do município.
Marilac (MG) ~ R$ 718 mil para ~10 apresentações. Correio Braziliense Leonardo, Gabi Martins (ex-BBB), João Neto & Frederico Evidência de uso repetido de emendas para shows múltiplos.

Principais pontos de observação

  • O levantamento aponta que desde 2023 foram identificadas dezenas de municípios em MG que utilizaram emendas parlamentares para shows, totalizando R$ 29 milhões ou mais em alguns reportes. Jornal do Brasil+1
  • Em cerca de 33 municípios sem hospital municipal, foram gastos ~R$ 8,1 milhões em shows com emendas parlamentares. Correio Braziliense+2Estado de Minas+2
  • A desconexão entre a prioridade de gasto (saúde, educação) e o uso de recursos para entretenimento é fortemente criticada. Correio Braziliense+1
  • Transparência é problemática: em muitos casos não houve registro completo ou plano de trabalho informado no sistema oficial (“Transferegov”) para justificar os valores e finalidades. Estado de Minas+1

Limitações e ressalvas

  • Os valores são estimativas com base em levantamento jornalístico; podem variar conforme prestação de contas ou ajustes.
  • A simples contratação de shows com emenda parlamentar não é necessariamente ilegal — o que se acredita ser problemático é a escolha de prioridade ou a falta de prestação de contas. Correio Braziliense+1
  • Em muitos casos não está claro qual parlamentar indicou a emenda, o plano de trabalho ou o público-benefício específico são questionados.

Crítica sobre o show de Zezé Di Camargo financiado com dinheiro público em Santa Catarina

A apresentação de Zezé Di Camargo em Porto Belo (SC), custeada com cerca de R$ 450 mil de recursos públicos, expôs mais uma vez o uso controverso de verbas municipais em eventos artísticos. Embora a contratação de artistas por inexigibilidade de licitação seja legal, a escolha levanta questionamentos éticos e de prioridade: em um país com demandas urgentes em saúde, educação e infraestrutura, é legítimo destinar quase todo o orçamento de turismo de uma cidade a um único show?

A situação se agravou quando o cantor, durante o evento, exibiu uma camiseta pedindo “anistia” para os presos do 8 de janeiro — um ato de natureza política em um palco financiado pelo Estado. Tal gesto extrapola o campo da liberdade artística e entra na seara do uso indevido de um espaço público para promover discursos ideológicos.

Mais do que um episódio isolado, o caso simboliza a falta de transparência e de sensibilidade na gestão cultural de alguns municípios. A cultura deve ser instrumento de inclusão e desenvolvimento, não vitrine de prestígio político ou palco para manifestações que dividem a sociedade.

Alguns adoram posar de críticos da Lei Rouanet, mas esquecem — ou escondem — que boa parte dos artistas sertanejos recebe milhões em emendas parlamentares, dinheiro público. É fácil apontar o dedo para a cultura urbana e os projetos sociais, enquanto se omite o privilégio dos próprios aliados. A verdadeira cafagestice está em manipular a opinião pública com meias verdades e discursos seletivos sobre o uso do dinheiro público na arte.

Fonte:      www.brasilcultura.com.br


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