Robô na cirurgia do câncer de próstata: mais precisão e recuperação rápida

Robô na cirurgia do câncer de próstata: mais precisão e recuperação rápida
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A técnica Retzius Sparing representa uma evolução na prostatectomia radical, com menor invasividade, menos dor e recuperação funcional mais rápida

O câncer de próstata é o tumor mais comum entre os homens e, felizmente, um dos que têm maior chance de cura quando diagnosticado precocemente. Nos últimos anos, a cirurgia robótica transformou o tratamento da doença, oferecendo resultados cada vez mais precisos e com menor impacto para o paciente. Entre as principais vantagens estão menor trauma cirúrgico, menos dor, redução de sangramento e um tempo de recuperação significativamente mais curto.

Entre as técnicas disponíveis, a chamada Retzius Sparing — uma variação da prostatectomia radical robótica —, realizada pela primeira vez há nove anos no Brasil (Tobias-Machado et al., Int Braz J Urol, 2016), vem ganhando destaque mundialmente por proporcionar recuperação funcional mais rápida e preservação das estruturas responsáveis pelo controle urinário e pela função sexual.

Menor invasividade e recuperação mais rápida

Na prostatectomia robótica tradicional, o acesso à próstata é feito pela região anterior, entre a bexiga e a parede abdominal, com maior manipulação dos tecidos e estruturas próximas à bexiga. Já na técnica Retzius Sparing, o cirurgião aborda a próstata por via posterior, entre a bexiga e o reto, evitando o descolamento de ligamentos e vasos importantes para a recuperação funcional. Essa mudança aparentemente simples faz toda a diferença na redução da perda de urina e na manutenção da vascularização do pênis.

Além das incisões menores, o uso do sistema robótico amplia a visão do campo cirúrgico em três dimensões e oferece movimentos de alta precisão, o que reduz o risco de lesões em nervos e vasos delicados. Na prática, o paciente costuma receber alta em um ou dois dias e retomar suas atividades habituais de forma mais rápida e segura.

Um artigo recentemente publicado pelo nosso grupo de pesquisa, em colaboração com os pioneiros da Itália, indica que a não manipulação da parede abdominal anterior na técnica Retzius Sparing resulta também em menor índice de hérnias inguinais de novo, risco que é muito superior nas técnicas aberta, laparoscópica e robótica anterior (Galdino et al., J Min Inv Surg, 2025).

Controle urinário e função sexual preservados

Um dos maiores receios após a retirada da próstata é a perda do controle urinário e da atividade sexual. A abordagem Retzius Sparing foi desenvolvida justamente para minimizar esses efeitos, mantendo intactas as estruturas de sustentação da bexiga, a vasculatura arterial e venosa que passa na porção anterior e lateral e os feixes nervosos que controlam a ereção. Estudos internacionais mostram que essa técnica acelera a recuperação funcional, com taxas de continência urinária e preservação sexual superiores às observadas nas abordagens convencionais.

De acordo com especialistas, cerca de 90% dos pacientes submetidos à Retzius Sparing retomam o controle urinário em 30 dias após a cirurgia e apresentam melhora mais rápida da função erétil, menor encurtamento do pênis e menor chance de desenvolvimento de curvaturas penianas secundárias à doença de Peyronie. Além disso, a ejaculação com conteúdo urinário (climactúria) também é menos frequente quando a Retzius Sparing é realizada, especialmente quando o diagnóstico é precoce e o tumor se encontra confinado à próstata.

Avanços científicos e resultados comprovados

Recentemente, foi aceita para publicação a maior experiência latino-americana multicêntrica com a técnica de prostatectomia radical robótica Retzius Sparing (Tobias-Machado et al., Video Urology, in press, 2025), reforçando a evidência de que o método combina segurança oncológica com recuperação funcional mais rápida. Esses resultados se somam aos dados da literatura internacional, que apontam a Retzius Sparing como uma das abordagens mais promissoras da cirurgia urológica moderna.

Embora a robótica ainda represente um investimento maior para os hospitais, o benefício para o paciente é indiscutível: menos dor, menos tempo de internação e melhor qualidade de vida no pós-operatório. O avanço tecnológico, aliado à experiência do cirurgião, redefine o padrão de tratamento do câncer de próstata, tornando-o cada vez mais preciso, menos invasivo e mais humano.

*Texto escrito pelo urologista Marcos Tobias Machado (CRM/SP 75.225 | RQE 63664), doutorado pela Universidade de São Paulo (USP) e membro da Brazil Health

 

 

 

Fonte: www.cnnbrasil.com.br


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