Tomar menos café ajuda a ter mais sonhos? Entenda o que a ciência diz

Tomar menos café ajuda a ter mais sonhos? Entenda o que a ciência diz
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Médicos explicam como o café interfere na arquitetura do sono e até na lembrança dos sonhos

Você já reparou que, ao diminuir o café, começou a ter sonhos mais vívidos, ou até pesadelos? A explicação pode estar menos no inconsciente e mais na bioquímica do sono. Segundo especialistas, o consumo de cafeína interfere diretamente nas fases do descanso e, por isso, pode influenciar o quanto e o que lembramos dos nossos sonhos. Quando o consumo diminui, o corpo tende a compensar, reorganizando o sono e permitindo que a mente volte a sonhar com mais intensidade.

“A ciência mostra que a cafeína interfere diretamente na arquitetura do sono, especialmente nas fases mais profundas e no sono REM, que é quando os sonhos mais vívidos acontecem”, explica Maria Clara Martins, médica endocrinologista, metabologista e nutróloga. “Pessoas que consomem muita cafeína tendem a ter menos tempo de sono REM e, portanto, sonham menos ou lembram menos dos sonhos. Quando reduzem o consumo, o corpo tende a compensar, e essa reorganização pode gerar sonhos mais intensos.”

A ciência por trás do sono e da cafeína

O sono é dividido em ciclos que alternam entre fases leves, profundas e o sono REM, o momento em que os olhos se movem rapidamente sob as pálpebras e o cérebro entra em alta atividade, criando os sonhos mais nítidos.

A cafeína atua diretamente sobre esse equilíbrio. “O composto é um estimulante do sistema nervoso central. Ela bloqueia os receptores de adenosina, uma substância que sinaliza ao cérebro que é hora de descansar. Com isso, há um atraso na sonolência e uma redução do tempo total de sono”, explica Maria Clara.

De acordo com a médica, estudos apontam que o consumo elevado de cafeína diminui o tempo de sono profundo (fase N3) e o tempo total de sono REM, fragmentando o descanso e alterando a sequência natural das fases. O resultado é um sono mais leve e uma sensação de descanso incompleto, mesmo após horas na cama.

Clayton Luiz Dornelles Macedo, endocrinologista, médico do esporte e especialista do Hospital Israelita Albert Einstein e do Instituto Cohen, reforça que o efeito é mais sutil do que as pessoas imaginam: “Ainda não há provas de que a cafeína mude o conteúdo ou a intensidade dos sonhos. O que sabemos é que ela encurta o tempo total de sono, fragmenta as fases e pode atrasar o início do sono REM, que é justamente quando mais sonhamos”, explica.

Segundo o médico, isso significa que quem consome muita cafeína “tende a ter menos oportunidades de sonhar, ou de lembrar dos sonhos, e não necessariamente sonhos mais fracos”.

Menos café, mais sonhos: o que realmente acontece

Quando a cafeína é reduzida ou retirada da rotina, o corpo tende a restabelecer o equilíbrio das fases do sono. Essa reorganização natural é o que faz algumas pessoas perceberem sonhos mais vívidos, coloridos e com maior sensação de realidade.

“Ao parar ou reduzir a cafeína, o sono tende a se reorganizar: o corpo volta a atingir o REM de forma mais natural. Isso pode aumentar a lembrança dos sonhos, o que algumas pessoas interpretam como sonhos mais vívidos”, explica Macedo. “Mas o fenômeno é mais uma consequência de um sono melhor, e não de um efeito direto sobre a imaginação ou a mente durante o sono.”

De acordo com os especialistas, o que muda é a frequência e a recordação dos sonhos, não a criatividade ou a complexidade deles. “Na prática, ambos os efeitos podem ocorrer”, diz a Dra. Maria Clara. “A cafeína reduz o tempo de sono REM e fragmenta o sono, o que gera menos oportunidades para sonhar. Mas também é possível que os sonhos aconteçam e a pessoa simplesmente não os recorde, já que o sono interrompido dificulta a consolidação da memória onírica.”

Em outras palavras: o café não apaga os sonhos, mas pode roubar a lembrança deles.

A abstinência e o “rebote do REM”

Quem reduz o café de forma brusca pode notar um fenômeno curioso: sonhos muito vívidos, intensos e até pesadelos nos primeiros dias. Isso acontece, segundo os médicos, por uma reação natural do corpo à ausência da cafeína.

“Ao interromper o consumo, o sistema nervoso passa por uma espécie de recalibração. O sono REM tende a aumentar nas primeiras noites, o que pode gerar sonhos muito vívidos. É um efeito temporário, dura poucos dias até o corpo ajustar novamente os receptores e o ciclo do sono se estabilizar”, explica Maria Clara.

Esse fenômeno é conhecido como rebote do REM, e é observado também após períodos de privação de sono, quando o corpo tenta compensar as fases perdidas.

Quanto tempo o café fica no organismo

A duração da cafeína no corpo varia de pessoa para pessoa, dependendo do metabolismo e de fatores genéticos. “A meia-vida da cafeína é de 4 a 6 horas, mas pode durar até 9 ou 10 horas em algumas pessoas”, explica Macedo. “Isso significa que um café tomado às 17h ainda pode estar ativo na hora de dormir.”

Já a Dra. Maria Clara alerta que, em casos de metabolismo mais lento, o efeito pode se estender ainda mais. “Em algumas pessoas, a cafeína pode permanecer ativa por até 12 ou 14 horas. Isso quer dizer que aquele café da tarde pode, sim, interferir no adormecer e na qualidade do sono noturno, mesmo que a pessoa ‘ache’ que dorme bem”, afirma.

A recomendação geral dos especialistas é evitar cafeína de seis a oito horas antes de dormir. “Para quem dorme às 22h, o ideal é que o último café do dia seja até 14h ou 15h”, orienta a médica. “Pessoas mais sensíveis podem precisar interromper ainda mais cedo.”

 

 

 

Fonte: www.cnnbrasil.com.br


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