Maior polo agropecuário do Brasil, Estado tem nomes para compor grupo ministerial de Lula ou de Bolsonaro
Independentemente do resultado do segundo turno presidencial, Mato Grosso terá pequena participação no alto escalão do Governo, quer seja de Jair Bolsonaro (PL) ou de Lula da Silva (PT).
Com pouco peso político nacional, somente o perfil econômico abre espaço ao poder, permitindo imaginar que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) tenha em sua titularidade, pela terceira vez, um mato-grossense.
A disputa ministerial é verdadeira guerra de foice, longe do olhar do cidadão, e Mato Grosso teve apenas três ministros, após a redemocratização, em 1985.
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Dante de Oliveira, de maio de 1986 a março de 1987, no Governo de José Sarney, que precisava acenar para a esquerda e o nomeou para o Ministério da Reforma e do Desenvolvimento Agrário.
Ele surfava na popularidade, por conta de sua recente emenda das diretas, e o presidente o viu figura certa para dar ares democráticos ao seu mandato.
Neri Geller respondeu pelo Mapa em 2013 e 2014, no Governo de Dilma Rousseff (PT).
Augustin, um dos reis da semente no Brasil, integra com destaque a equipe liderada por Aloizio Mercadante, que elabora a política agrícola de Lula.
Blairo Maggi foi ministro do Governo de Michel Temer (MDB).
Fechadas as urnas, o senador reeleito Wellington Fagundes (PL) saiu fortalecido e seu círculo mais próximo admite, em off, que seu nome tem a preferência de Bolsonaro para o Ministério da Infraestrutura, ao qual o Dnit é vinculado.
Wellington tinha poder de nomear e exonerar a chefia do Dnit em Mato Gross,o nos governos de Fernando Henrique Cardoso, Lula, Dilma e Temer.
Mesmo presidindo regionalmente o partido de Bolsonaro, não será fácil ao senador chegar ao ministério, que sempre tem cadeira cativa reservada para políticos mineiros ou seus indicados.
Parlamentar distante dos debates e mais de articulação nos bastidores, Wellington não abrirá mão desse sonho, caso o vencedor seja Lula, já que ambos foram aliados e, numa visão mais ampla, política é a arte da recomposição.
Caso Lula vença a disputa, naturalmente, o senador Carlos Fávaro (PSD) será peça-chave da política mato-grossense.
Lula, porém, deverá optar por mantê-lo em plenário, onde a oposição ao seu Governo será ferrenha, e sua defesa terá que ser assumida por oradores articulados, como é o caso de Fávaro.
Mesmo sem Fávaro, Lula, certamente, reservará o Mapa ao agronegócio mato-grossense, que é o maior do país.
Numa hipótese assim, e com aval de Blairo Maggi (PP) e Fávaro, dois nomes entram em cena pelo cargo: Carlos Ernesto Augustin e Ricardo Tomczyk.
Augustin, um dos reis da semente no Brasil, cultiva na região da Serra da Petrovina, no polo de Rondonópolis (212 km ao Sul de Cuiabá), e integra com destaque a equipe liderada por Aloizio Mercadante, que elabora a política agrícola de Lula.
Tomczyk tem lavouras em Rondonópolis, foi presidente da Aprosoja Mato Grosso e secretário de Desenvolvimento Econômico no Governo de Pedro Taques; é advogado e executivo de Relações Institucionais da Amaggi.
Se Bolsonaro conquistar a reeleição, Rui Prado e Maurício Tonhá são os nomes mais prováveis para eventual nomeação ao Mapa.
Rui é produtor rural em Campo Novo do Parecis e Nova Brasilândia, ex-presidente do Sindicato Rural de Campo Novo do Parecis e do Sistema Famato, fundador da rede Agrihub, veterinário e político identificado com a direita.
Tonhá é pecuarista, fundou e preside a Estância Bahia, que é uma das maiores leiloeiras bovinas do Brasil, e presidiu a Câmara Municipal de Água Boa, onde foi prefeito em dois mandatos consecutivos.
O Mapa é um ministério ora ocupado por indicação partidária, ora por organizações classistas.
Augustin, Tomczyk, Rui e Tonhá transitam bem entre uma e outra opção.
Por trás de seus nomes, está a força do agronegócio suprapartidário.
As principais lideranças desse segmento econômico sabem que, a partir de janeiro, o país precisará refazer caminhos do mercado internacional e que não pode abrir espaço para polêmica naquele ministério.
No eventual Governo Lula, Tomczyk teria que reaquecer laços com a China, abalados por destemperos verbais de Bolsonaro.
Augustin não tem a vivência de Tomczyk nas relações institucionais e internacionais, mas, por outro lado, fala de igual para igual com os maiores nomes do agronegócio brasileiro.
Rui Pradp é produtor rural em Campo Novo do Parecis e Nova Brasilândia, ex-presidente do Sindicato Rural de Campo Novo do Parecis e do Sistema Famato
Tanto Rui quanto Tonhá são habilidosos e, em caso de vitória de Bolsonaro, seriam estratégicos para a pacificação no campo e pela busca da convergência da produção, independentemente do tamanho da área cultivada ou da invernada.
Passada a disputa eleitoral, o agro mato-grossense deixará de lado a preferência por esse ou aquele presidente.
O que estará em jogo é o amanhã comum a todos. E nessa hora, divergência cede espaço ao consenso e, independentemente do nome que venha a ser sugerido ao cargo.
Todos o apoiarão, começando por Otaviano Pivetta, Eraí Maggi Scheffer, Jayme Campos, Itamar Locks, Alberto Schlatter, Rogério Salles, Rogério Ferrarin, Edio Brunetta, Dante Petroni, Celso Gomes de Souza, Norma Rampelotto Gatto, Otavio Palmeira, Zeca D’Ávila, Normando Corral, Piero Vicenzo Parini, Augustinho Freitas Martins, Endrigo Dalcin, Odílio Balbinotti Filho, Gilberto Goellner, Ângelo Carlos Maronezzi, Cândida Santos Farias, Celso Griesang, Francisco Soares Neto, Fernando Cadore, Claides Lazaretti Masutti, Lucas Costa Beber, Fernando Ferri, Nelson Vigolo, Orlando Polato, Paulo Eduardo Beer, Renato Piccini, José Lino Geraldo Martins, Ernando Cardoso, Zitto Donadello, Jorge Pires de Miranda, Orcival Guimarães, Luiz Antônio Freitas Martins, Helmut Augusto Lawisch, Inácio Camilo Ruaro, Roland Trentini e os demais que juntos respondem pela maior fatia do PIB de Mato Grosso.
NERI GELLER – Ex-ministro de Dilma, Neri Geller tem a simpatia de Lula, mas seu nome não seria aproveitado, por conta do chamado esqueleto no guarda-roupas.
O grupo bolsonarista é maioria no Congresso, e Lula presidente sofreria forte oposição.
Essa lógica política não permitirá que seu ministério tenha figuras envolvidas em escândalos, o que elimina a possibilidade da volta de Neri Geller ao Mapa.
Em delação premiada, o ex-executivo da JBS, Florisvaldo de Oliveira, revelou que entregou R$ 250 mil a Geller, em seu gabinete no Mapa, como parte da propina de sua empresa a autoridades em busca de vantagens.
Neri Geller nega, mas, em novembro de 2018, foi preso pela Polícia Federal, na Operação Capitu, que também prendeu o vice-governador de Minas e ex-ministro do Mapa, Antônio Andrade.
Geller, Andrade e outros são réus numa ação por constituição e participação em organização criminosa, obstrução de justiça, falsificação de documentos, crime contra a ordem tributária, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.
Ele concorreu ao Senado nas eleições de outubro, numa chapa coligada com o PT e tendo na segunda suplência o petista Nilton da Fetagri, mas seus votos não foram computados em razão da negativa do seu pedido de registro de candidatura.
É deputado federal pelo PP, exerce o cargo, mas seu mandato foi cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral, por crime de abuso de poder, na campanha em 2018.
Fonte: diariodecuiaba.com.br