Acusados de violência doméstica participam de grupos reflexivos para homens em Sinop

Acusados de violência doméstica participam de grupos reflexivos para homens em Sinop
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“Quase perdi a cabeça e poderia ter feito uma bobagem”, o desabafo é de um dos participantes dos Grupos Reflexivos para Homens em situação de violência doméstica em Sinop. Após um casamento de mais de 12 anos o final da relação for turbulento e A.M.D. foi acusado duas vezes de ter cometido violência contra a mulher. O caso chegou até a juíza da 2ª Vara Criminal, Débora Pain Caldas, que encaminhou ao acusado para o atendimento em grupo, orientado por psicólogos e estudantes de Psicologia, liderados pela professora Carla Sulingo Araújo Metello.
“No primeiro momento que eles chegam ao grupo, ficam furiosos, não querem ir. Dizem que a juíza está obrigando a ir ao psicólogo. Depois eles passam a gostar e querem até continuar. Teve um que pediu para frequentar quando tivesse um próximo grupo”, conta a magistrada.
A iniciativa dos grupos reflexivos é uma parceria entre a unidade judiciária com competência para os feitos afetos à Lei Maria da Penha da Comarca de Sinop e o Centro Universitário Unifasipe, por meio do Curso de Psicologia. Além da professora, o projeto contou com as alunas Daiane Couto Rieger e Natalia Vieira.
Participante do grupo, A. M.D. é um dos que a juíza cita. Ele não gostou da ideia de frequentar os grupos, mas sua visão sobre o assunto mudou completamente ao final dos encontros.
“A maioria dos homens não conhece, se fala em psicologia o cara já acha que está sendo chamado de louco. Claro, tem os momentos que a gente se altera, mas temos que observar. Eu tenho total confiança nos psicólogos. Cheguei no grupo, mas eu nem queria participar. Acontece que é a lei e do jeito que me pede, eu faço”, relata.
No primeiro dos 12 encontros, A.M.D. conta que viu casos de homens em situação mais complexa que a dela e com dificuldades ainda maiores. Ele avalia que não basta o projeto ajudar, o homem também precisa fazer a sua parte. “Os homens que conheci ali tinham passado por flagrante, quebrado a casa ou até batido mesmo. Não era o meu caso, eu nem morava mais com ela, sou acusado de injúria. Mesmo assim, eu poderia ter evitado muita coisa, se soubesse antes do que sei agora”.
Ele acredita que as reflexões do grupo devem alcançar toda a sociedade e, no seu caso, poderia ter evitado a medida protetiva. A lição aprendida, segundo ele, é que na hora de uma discussão, o melhor é se afastar e evitar que os ânimos fiquem mais acirrados. “É nesse momento que muitos se perdem, acabam ficando nervosos e aí a gente sabe que é arriscado. Na relação entre marido e mulher, os sentimentos são mais difíceis e até mesmo uma pessoa calma, pode estourar”, relata.
De acordo a professora, entre 2018 e 2019 eram atendidos 20 homens por semestre. Com a pandemia de Covid-19, as atividades foram suspensas e retornaram ao final de 2021, atendendo 25 homens.
“Os homens que são encaminhados até nos pelo Fórum se reúne em 12 encontros em grupos de 6 a 12 participantes e são atendidos por estudantes de psicologia que estão a partir do 7º semestre”, conta a psicóloga que acompanha de perto os trabalhados
Entre os temas levados estão a Lei Maria da Penha, violência contra a mulher, comunicação não violenta, papel do homem e da mulher na sociedade. Os encontros duram cerca de 1,5 hora. A coordenadora explica que não são grupos terapêuticos e sim reflexivos. Eles estão ali para aprender novas habilidades sociais, são grupos que pretendemtrazer a reflexão sobre a conduta deles. “É a partir do terceiro encontro que eles começam a gostar porque percebem que não estão ali para serem punidos e sim para serem compreendidos e para compreenderem. Tem feito muito diferença na vida dessas pessoas”, diz.
A.M.D lembra dos momentos difíceis que passou durante e após o relacionamento. Mas lembra que passou por uma transformação positiva, apesar do sofrimento.
“A primeira acusação me deixou abalado, mas a segunda situação me deixou muito para baixo, fui ao fundo do poço. Graças a buscar essa ajuda, também a autoajuda, que comecei a melhorar. O sentimento era de solidão, porque não tem ninguém por nós (homens). A minha vida foi ao fundo do poço”, desabafa.
Dados – De acordo com dados da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Cemulher) do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), ano passado foram concedidas 10.248 medidas protetivas de urgência e só em janeiro deste ano foram 660. As medidas protetivas são ordens judiciais concedidas com o objetivo de proteger um indivíduo que esteja em situação de risco, perigo ou vulnerabilidade.
Andhressa Barbosa
 TJMT

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