Conferência de Munique: “Se Rússia para de lutar, temos paz”

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Políticos de ponta da Alemanha e EUA emitem mensagem clara na Conferência de Segurança: fim do conflito na Ucrânia depende exclusivamente de Moscou. Acusações de crimes de guerra são cada vez mais veementes.

Na tarde deste sábado (18/02), segundo dia da Conferência de Segurança de Munique, um painel intitulado Visões da Ucrânia, centrado no país sob invasão militar da Rússia, reuniu os ministros do Exterior ucraniano, Dmytro Kuleba, e alemã, Annalena Baerbock, e seu homólogo americano, o secretário de Estado Antony Blinken.

A primeira pergunta, dirigida a Baerbock: foi sob que condições se alcançará um acordo de paz no conflito, e se ele só poderia ser obtido militarmente, ou se através de negociações.

“No fim das contas, deve haver paz, e tem que se paz justa e duradoura. E há uma maneira fácil para dar fim a essa guerra e termos paz novamente, que é a Rússia parar os bombardeios e retirar suas tropas”, respondeu a política verde. “Podemos fazer isso amanhã se a Rússia decidir retirar suas tropas amanhã. Aí teremos paz não só na Ucrânia, mas em todo o mundo.”

Blinken ecoou esses comentários, acrescentando: “Se a Rússia parar de lutar, a guerra acaba. Se a Ucrânia parar de lutar, a Ucrânia acaba.” O chefe da diplomacia dos Estados Unidos louvou especialmente a assistência militar alemã ao país sob ataque.

Apesar das críticas em 2022, partindo de Kiev e de países parceiros da Otan, quanto à lentidão de algumas de suas decisões, Berlim dera passos “que poucos de nós nesta sala teríamos imaginado serem possíveis antes da agressão russa”, defendeu o chefe da diplomacia americana.

Indagado qual seria sua noção de vitória, Kuleba detalhou: “Para nós, há uma noção breve de vitória, que é a restauração total da integridade territorial da Ucrânia. E uma versão longa, que inclui compensações pelos danos causados, responsabilização dos que perpetraram crimes, e o mais importante: a Rússia precisa mudar.”

“No fim, a paz duradoura no espaço euro-atlântico só será possível depois que a Rússia deixe de representar uma ameaça a esse espaço. E, para isso ocorrer, precisamos que a Rússia mude”, explicitou o ministro. Enquanto Vladimir Putin estiver no poder, Kiev estará em apuros, já que a questão representa uma “obsessão pessoal” do presidente russo.

Harris e Sunak acusam Rússia de crimes de guerra

Também presente à Conferência de Munique, a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, declarou pela primeira vez neste sábado que seu país considera as ações russas na Ucrânia, inclusive as ofensivas “abrangentes e sistemáticas à população civil”, crimes contra a humanidade e “ataques aos nossos valores comuns e à nossa humanidade comum”.

“Eu digo a todos que perpetraram esses crimes e a seus superiores, que são seus cúmplices: vocês serão culpabilizados. […] A justiça tem que ser cumprida”, frisou a ex-promotora.

Por outro lado, ressaltou, há motivos para se estar otimista, depois de quase um ano de combates na Ucrânia: “Kiev ainda está de pé, a Rússia está enfraquecida, a aliança transatlântica é mais forte do que nunca, o espírito do povo ucraniano resiste.”

Ecoando Harris, o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, afirmou que “o mundo todo precisa chamar a Rússia à responsabilidade” pelos crimes de guerra na Ucrânia e pela “terrível destruição que vem infligindo”. Isso poderia implicar que um dia Moscou pague pela reconstrução ucraniana.

Agora, porém, é o momento de “redobrar o nosso apoio militar” aos ucranianos, , exortou Sunak: “Quando Putin começou esta guerra, ele apostou que nossa determinação fraquejaria. Agora mesmo ele conta com que perderemos a coragem.” Mas o Reino Unido será “o primeiro país a fornecer armas de mais longo alcance à Ucrânia”, pois esta precisa estar apta a se defender de “bombas russas e drones iranianos”.

Segundo o chefe de governo, Londres está pronto a “ajudar qualquer país a entregar aviões [de combate] que a Ucrânia possa usar hoje”: “Mas temos também que treinar os pilotos ucranianos a usarem os jatos mais modernos. E isso é exatamente o que a Grã-Bretanha está fazendo, a fim de que a Ucrânia tenha capacidade de defender sua segurança no longo prazo.”

China aproveita para dar estocadas nos EUA

Numa sessão anterior da Conferência de Segurança de Munique, o representante máximo da diplomacia chinesa, ex-ministro do Exterior Wang Yi, anunciara que pressionaria para que se faça paz entre a Rússia e a Ucrânia. Foi a primeira vez que o país asiático compareceu em tão alto nível a Munique, desde a eclosão da pandemia de covid-19.

Wang assegurou que Pequim seguirá tentando mediar negociações de paz entre Kiev e Moscou. Aludindo ao slogan oficial da atual cúpula de segurança mundial, “Paz através de diálogo”, ele aparentemente sugeriu que a China estaria mais comprometida com essa ideia do que outros participantes da cúpula.

“Houve diversas rodadas de conversações de paz. E vimos um texto-base sobre a solução pacífica da crise. No entanto isso parou, não sabemos por quê, o processo foi suspenso. Algumas forças talvez não queiram ver conversações de paz se materializarem: elas não se importam com a vida e morte dos ucranianos, nem com os danos à Europa, talvez tenham metas estratégicas maiores do que própria Ucrânia.”

Embora Wang não tenha explicado o que quis dizer com “algumas forças”, diversos outros comentários em seu discurso pareceram direcionados aos Estados Unidos. Ele comentou, por exemplo, que, embora de fato existam “discordâncias entre os países”, tratá-las “com pressão, campanhas de difamação ou sanções unilaterais costuma ser contraproducente”.

O diplomata de 69 anos também aproveitou a guerra na Ucrânia para enfatizar que “por um mundo mais seguro, a soberania e integridade territorial de todos os países deve ser respeitada”. Traçando um paralelo com as pretensões de Pequim quanto ao Taiwan, o diplomata veterano acusou países não identificados de “duplicidade de critérios”.

Em suas observações preliminares, Wang afirmara que a covid demonstrara como o mundo é “uma aldeia global”, e que só se poderá “alcançar vitória se confiarmos uns nos outros”.

“Passados três anos, a pandemia está contida, mas o mundo não está mais seguro. Falta confiança entre os países, abismos geopolíticos se alargam, a mentalidade da Guerra Fria está de volta; novos tipos de ameaça à segurança, desde energia, alimentos, clima, biossegurança e inteligência artificial, continuam emergindo.”

Reagindo a uma pergunta, Wang classificou como “absurdo e histérico” os EUA terem derrubado recentemente um balão de origem chinesa que atravessou a América do Norte, sob suspeita de espionagem: “Isso, eu diria, é 100% abuso de força, é uma violação das regras internacionais.”

Como informou o Comando Norte das Forças Armadas dos EUA, os americanos recolheram e estão analisando os destroços do objeto voador abatido para “exploração de contrainteligência”.

Fonte:    dw.com


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