Leitura, uma janela aberta para o mundo

Leitura, uma janela aberta para o mundo
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O grande, talvez o maior desafio, não é ensinar crianças, adultos e idosos/idosas a aprenderem a ler (e a escrever), mas, fundamentalmente, como estimular para que as pessoas cultivem o hábito da leitura (e da escrita).

A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto.” Paulo Freire em “A Arte da Leitura”, 1981, após seu regresso ao Brasil, depois de mais de uma década de Exílio político.

Os maiores inimigos da leitura são a pobreza, a exclusão social, econômica, política e cultural, o analfabetismo, o analfabetismo funcional, o desinteresse, a preguiça e a sempre alegada “falta de tempo”, cabendo também destacar as dificuldades encontradas pelas pessoas que sofrem com deficiência visual e são excluidas, inclusive do direito `a leitura, razão pela qual precisamos defender políticas públicas inclusivas, em que a leitura também seja contemplada. Por isso é que a leitura (e a escrita) é também um ato de cidadania, que nos acompanha ao longo de nossa existência.

Durante séculos o analfabetismo foi e ainda continua sendo uma vergonha nacional. Inicialmente, durante mais de três séculos nosso país tinha seu sistema sócio-econônico, político e cultural baseado na escravidão, em que apenas a elite, a população branca tinha acesso `a escola.

Em 1840 o índice de analfabetismo no Brasil era de 92% e durante os últimos 180 anos foi caindo, em rítimo lento, quando comparado com os demais países, sendo que em 2020 ainda existiam 7% da população com 15 anos e mais, ou seja, em torno de 16 milhões de pessoas analfabetas.

Além desses, também o índice de analfabetismo funcional em 2020 era de 29% , em torno de 38 milhões de pessoas, ou seja, um número absurdo de 54 milhões de pessoas que estavam impossibilitadas de excerem o direito da leitura e, em consequência, da escrita. Quando esses índices são analisados por regiões, no Nordeste e no Norte esses índices são bem maiores e piores, quando comparados com o Sul e Sudeste.

Sabemos que o analfabetismo, o analfabetismo funcional e a pobreza, falta de renda para adquirir bens e serviços, inclusive livros, revistas, jornais e também terem acesso           a internet banda larga/alta velocidade, enfim, a exclusão, são fatores determinantes do estilo e nível de vida, constituindo-se, no caso da leitura, nos grandes fatores que impedem o seu desenvolvimento, além de outros que costumeiramente são encontrados em inúmeros estudos e pesquisas sobre o tema.

“Conhecereis a verdade e ela vos libertará”.  Disto se infere que o conhecimento é o caminho da liberdade e da libertação. Só atingimos, alcançamos o conhecimento através da leitura como uma reflexão crítica e criadora da realidade, em processo de transformação profunda.

A última grande pesquisa nacional realizada no Brasil e publicada pelo Instituo Pró-livro/Itaú Cultural em 2020, em sua quinta edição constata que apenas 52% da população com 5 anos e mais têm o habito regular da leitura.

Desde meados do século passado as questões do analfabetismo e da falta de hábito regular para a leitura tem despertado interesse tanto de alguns governantes quanto de lideranças da sociedade civil e religiosa, bem como de escritores, editoras e meios de comunicação de massa escritos/impressos e, também, virtuais.

“Um país se faz com homens (sentido genérico, incluindo também mulheres, é claro) e livros” A famosa frase de Monteiro Lobato reflete a vida de um homem que se dedicou aos livros e à formação do leitor, que exerceu um papel fundamental no desenvolvimento da indústria do livro no Brasil, atuando como tradutor, adaptador e editor, e contribuindo para levar a palavra impressa a todos os cantos do país.

Parafraseando Monteiro Lobato, um dos maiores escritores da Língua Portuguesa, podemos dizer, sem sombra de dúvida que “quem não lê, mal ouve, mal fala, mal entende e mal vê” e, em consequência, não vive  e exerce a plenitude da cidadania.

A Leitura é o único caminho que nos liberta da ignorância, da opressão, da falta de conhecimento, do comodismo, da exclusão, da falta de esperança e da incapacidade de sonharmos. É a leitura que nos conduz `a plenitude da cidadania e de um futuro promissor, individual e coletivamente.

Muita gente imagina que com o desenvolvimento da virtualidade, dos computadores, da internet, das plataformas digitais, dos modernos aparelhos celulares a leitura de livros, revistas, jornais impressos desapareceriam. E, em parte, isto está acontecendo, quando constatamos o fechamento de livrarias, de bibliotecas tanto no Brasil quanto em outros países, lamentavelmente. Entre 2015 e  2022 foram fechadas em torno de 800 bibliotecas públicas municipais, principalmente nos Estados de São Paulo e Minas Gerais, o que demonstra o descaso das prefeituras em relação `a educação, `a cultura e, óbvio, a leitura.

Todavia, é mister reafirmar que mesmo que isto seja, em parte, verdadeiro, para ter acesso e bem utilizar esses meios tecnológicos sofisticados, a leitura é cada vez nais importante, seja através da forma impressa seja na forma digital/virtual.

Sem o desenvolvimento da leitura torna-se impossível `as pessoas aprofundarem a compreensão da realidade em que está situada, principalmente política, ambiental, econômica, social e tecnológica. Como resultado surge ainda a questão do analfabetismo tecnológico, que somado ao analfabetismo tradicional e o analfabetismo funcioal, cada vez mais uma parcela maior da sociedade acaba sendo excluida.

Diante desta realidade é fundamental que a leitura e em consequência a escrita sejam estimuladas de todas as maneiras possíveis. A leitura e a escrita são as bases fundamentais dos sistemas de educação/ensino, desde sua fase inicial (educação infantal) até a universidade (doutorado/pós- doutorado) e também ao longo da vida toda.

Todos sabemos que a educação também está na base do desenvolvimento científico e tecnológico, razão pela qual alguns paises que, REALMENTE, investem na educação de qualidade, laica e pública princiopalmente, são também os países que mais avançaram e continuam avançando em termos de ciência e tecnologia.

Assim, a leitura e a escrita são os alicerces tanto do sistema educacional quanto do desenvolvimento científico e tecnoóligo dos países e garatem aos mesmos romperem com os laços de dependência, de atraso, de pobreza, enfim, do subdesenvolvimento e exclusão e do colonialismo cultural.

Diversos estudos e pesquisas demonstram sobejamente os beneficios e a importância da Leitura e, por extensão, da escrita/capacidade de escrever. Diante da falta de hábito regular de leitura, um dos ou talvez o maior desafio aos estudantes quando encaram o ENEM é a redação, demonstrando que quem não lê também não consegue desenvolver um raciocínio lógico e por isso não conseguem escrever ou mesmo interpretar um texto relativamente simples.

Dentre os inúmeros “benefícios” da leitura podemos destacar: 1) ajudam no desenvolvimento das funções cerebrais (pensar,sentir, refletir e agir), razão pela qual também é importante mesmo diante do processo de envelhecimento evitando ou retardando o surgimento das demências; 2) contribui para a ampliação do conhecimento pessoal e coletivo; 3) estimula a criatividade e o desenvolvimento científico e tecnológico; 4) aumenta o vocabulário e o repertório sociocultural; 5) contribui para o processo de interação social e para o aprimoramento da comunicação inter-pessoal; 6) desperta e estimula a imaginação e amplia o horizonte das pessoas; 7) melhora, amplia e facilita a habilidade da argumentação, da interpretação e do diálogo entre as pessoas; 8) ajuda no desenvolvimento de novas idéias; 9) contribui para o desenvolvimento da capacidade da escrita e seu aprimoramento; 10) contribui para a saúde, principalmente para a saúde mental.

Para finalizar é importante mencionar que durante o segundo ano do Governo Lula em 08 de Janeiro de 2009, foi sancionada a Lei 11.899, que instituiu a Dia Nacional da Leitura, a ser celebrado, anualmente, no dia 12 de outubro e, também, a Semana Nacional da Litura e da Literatura a ser celebrada no período em que “cair” o Dia Nacional da Leitura.

As questões da Leitura e da Escrita são tão importantes e fundamentais para o sistema educacional brasileiro, essencial mesmo para o seu aprimoramento, a melhoria de sua qualidade e também para o desenvolvimento do Brasil que, por meio da Lei 13.696, de 12 de Julho de 2018, sancionada no Governo Temer, foi instituida a Política Nacional de Leitura e Escrita, articulada com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e com o Plano Nacional da Educação e as políticas nacionais de educação e cultura.

Tendo em vista a importância deste assunto/tema, voltaremos, oportunamente, a aborda-lo, com o objetivo de refletirmos um pouco mais sobre, tanto os fatores que dificultam ou impedem o desenvolvimento de hábito da leitura e da escrita em nosso país, nosso estado e nos municípios quanto ao que podemos fazer, como pessoas, cidadãos e cidadãs, professores e professoras e, também, claro, o que cabe aos municípios, aos Estados e a União realmente realizarem para superarmos tais desafios e problemas.

Da mesma forma que através de Lei Federal foi  criada a Politica Nacional de Leitura e escrita, entendemos que também os Estados e municípios de semelhante forma devem definir também suas políticas, estratégias, planos e programas para incentivarem a leitura e a escrita em todos os âmbitos, tanto nas “escolas” quanto em outros contextos e dimensões.

Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista e articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email profjuacy@yahoo.com.br

Joselma Pereira Agulho, advogada formada pela UFMT, especialista em direito médico, curso de especialização em resolução de conflitos e mediação e em gestão de ouvidoria pública; articuladora de grupo de leitoras virtuais. Email joselma.agulho@gmail.com

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