Segundo o ex-ministro da decisão de ampliar o período de plantio foi política e não científica, já que Embrapa e Indea são contra
Empresas de biotecnologia e defensivos agrícolas e a Embrapa alertam para o risco de a janela estendida favorecer a proliferação da ferrugem asiática, em razão do aumento da “ponte verde” – período ininterrupto com plantas vivas a campo.
A disputa foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF), que pode derrubar o calendário por liminar. Uma das justificativas do Ministério da Agricultura para ampliar a janela em 34 dias foram as “incertezas climáticas vivenciadas na safra 2020/21 que resultaram em atrasos no plantio da soja, fato que poderia se repetir na safra 2021/22”. A Pasta afirmou que não existem pesquisas científicas publicadas que confiram embasamento à afirmação de que o período mais adequado para o plantio de soja é mesmo até 31 de dezembro.
Para o ex-ministro da Agricultura Blairo Maggi, acionista da Amaggi, uma das maiores produtoras e processadoras de grãos do país, porém, a questão virou política e não científica. Segundo Maggi, a decisão do Ministério da Agricultura foi tomada por pressão política. “A ministra Teresa Cristina foi convencida por quem defende esta ampliação do período”, disse Maggi, lembrando que o assunto é antigo, da época em que ele esteve no Ministério, antes da atual ministra.
Maggi defende uma decisão científica, pois acredita que a ampliação do período do plantio vai “bagunçar o controle da ferrugem asiática”. O maior risco, segundo ele, é com a perda de eficiência dos fungicidas.
O governo de Mato Grosso aceitou a mudança no calendário de plantio e Blairo Maggi também criticou o governador Mauro Mendes, que segundo ele, também foi pressionado por produtores alinhados ao governo Bolsonaro, que atualmente comandam a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), e que defendem o plantio até fevereiro. O Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea-MT), como a Embrapa, é contrário a decisão do governador.
“Se o Mauro não aceitasse, nem o Ministério da Agricultura levaria adiante esta ideia”, disse Maggi.
A Aprosoja-MT defende estudos feitos durante três anos por pesquisadores ligados à Fundação Rio Verde. O trabalho confirmou a menor incidência de ferrugem na soja cultivada em fevereiro e a necessidade de aplicação de menos fungicidas. O clima mais seco favorece o desenvolvimento de sementes de melhor qualidade, com maior vigor e poder de germinação, conforme Lucas Costa Beber, vice-presidente da entidade.
Segundo ele, o pleito é defendido pela associação desde 2016, mas que há tentativas de “cercear” o direito dos produtores. “Há interesse econômico por trás disso. O direito do produtor de salvar semente de qualidade na época adequada assusta os fornecedores de sementes”, disse. A medida beneficia pequenos e médios sojicultores do Estado que não conseguem ter unidades de beneficiamento nas fazendas e têm recebido produtos de “baixa qualidade” e com atrasos, segundo Beber.
Já o vice-presidente da Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat), Carlos Augustin, disse que o prejuízo maior é sanitário. “É lamentável a ministra Tereza Cristina terminar assim seu mandato, negando o óbvio. Ela vai ficar na história junto com Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga, ministros da Saúde, que negam a ciência e vão contra contra o que a Anvisa diz”.
Hoje, a produtividade média da soja em Mato Grosso aumentou 12%, de 50,9 sacas por hectare para 57,04, desde a adoção de medidas como o vazio sanitário e o calendário de plantio, a partir de 2016.
Fonte: diariodecuiaba.com