MT: VICENTE VUOLO FILHO: “BRT é um paliativo e não resolve o problema do transporte coletivo”

MT:  VICENTE VUOLO FILHO:   “BRT é um paliativo e não resolve o problema do transporte coletivo”
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O economista Vicente Vuolo Filho, formado e pós-graduado em Ciência Política pela Universidade de Brasília – UnB foi vereador em Cuiabá e Secretário de Estado, na década de 1990 é hoje um dos maiores especialistas em ferrovias do país.

Herdeiro da luta de seu pai, o saudoso ex-senador Vicente Vuolo, em favor do transporte sobre trilhos como o melhor, mais moderno e econômico e estratégico modal para Mato Grosso e, por consequência, para Cuiabá, o economista discorda totalmente da decisão do governador Mauro Mendes (UB) de trocar o projeto do VLT pelo BRT como modal de transporte intermunicipal para a Cuiabá e Várzea Grande.

Com larga experiências nos bastidores do poder em Brasília onde é funcionário de carreira no Congresso Nacional, teve papel fundamental no deslanche dos projetos das ferrovias Senador Vuolo, FICO e Ferrogrão.

Nesta entrevista exclusiva ao CO Popular, Vicente Vuolo desmonta com argumentos sólidos e desprovido de politicagens as desculpas e a propaganda oficial em favor do transporte sobre rodas proposto pelo governador.

CO Popular – O projeto do VLT em Cuiabá e Várzea Grande fracassou ou ainda pode se tornar uma realidade?

Vicente Vuolo – O VLT é sucesso no mundo todo, em mais de 450 cidades. Eu, mesmo, visitei algumas dessas cidades (e pude constatar a maravilha do VLT) como Barcelona, Paris, Roma, Florença, Pisa, Berlin, Dresden, Praga, Budapeste, Dubai, dentre outras. E deve se tornar realidade em Cuiabá e Várzea Grande, já que o desenvolvimento de toda grande cidade passa pelo investimento em mobilidade urbana sustentável ( VLT, metrô de superficie e metrô subterrâneo). Sou otimista e acredito que Cuiabá terá seu VLT um dia sim.

CO Popular – O principal argumento do Governo do Estado pra trocar o modal do VLT pelo BRT é econômico. O BRT é de fato mais barato que o VLT?

Vicente Vuolo – Ao analisar o aspecto econômico é preciso saber o retorno social de cada modal. O que é mais barato ou qual resolve o problema? construir um sistema sobre trilhos cujo trem tem durabilidade de 50 anos, os trilhos que duram mais de 100 anos, que é mais rápido, seguro, transporta mais gente e é mais eficiente? Ou um BRT que tem durabilidade média de 5 anos, que congestiona o trânsito e a reclamação é geral, quebradeira, superlotação, ineficiência, desconforto. Não há comparação. O BRT é um paliativo e não resolve o problema do transporte coletivo. O VLT ganha em todos os quesitos.

CO Popular – Outro argumento dos defensores do BRT é que é um sistema eficiente e mais adaptável à realidade da grande Cuiabá e trás vantagens para os usuários. Isso é verdade?

Vicente Vuolo – Essa argumentação é esdrúxula. O BRT é movido a combustível fóssil (BRT elétrico não deu certo em lugar algum). O BRT é diesel petróleo, tem pneus petróleo, anda no asfalto petróleo, é altamente poluente e transporta poucas pessoas 3 vezes menos que o VLT. Cuiabá, por ser uma cidade muito quente a somatória de fumaça, asfalto e congestionamentos só piora a qualidade de vida da população. BRT está fora de nossa realidade!

CO Popular – Quais seriam, no seu entendimento, os motivos reais para a insistência do Governador no cancelamento do projeto do VLT e implantação do BRT?

Vicente Vuolo – Apesar de não saber os reais motivos, essa decisão unilateral do governo estadual ajudou na manutenção do monopólio dos ônibus poluentes. Afinal, por que Cuiabá e Várzea Grande não podem ter transporte urbano sobre trilhos? Só pode pneus? O certo seria lutar para se ter um equilíbrio no sistema de transporte. Evolução no mundo é transporte sobre trilhos ecologicamente correto.

CO Popular – Por que o senhor considera o VLT mais adequado para Cuiabá e Várzea Grande? O senhor tem dados e estudos que indicam o trem como o transporte do futuro?

Vicente Vuolo – Porque as informações obtidas no TCE, TCU, MP, IEMT, Secretaria Nacional de Mobilidade Urbana e os engenheiros mais gabaritados em VLT e transporte ferroviário apontaram pela conclusão do VLT. Foram comprados 40 trens e 280 vagões, construída o Centro de Controle e Operação (CCO) numa área de mais de 70 mil metros quadrados, o viaduto do aeroporto, estação de passageiros do aeroporto, 3,5 km de trilhos eletrificados, viaduto da avenida da FEB, ponte de 224 metros sobre o rio Cuiabá, viaduto da Sefaz, viaduto da UFMT, viaduto do Coxipó….tudo isso com o dinheiro do VLT cerca de 1 bilhão de reais, tendo sobrado 190 milhões. Ou seja, todas as obras de arte foram feitas. E, eu realizei uma visita técnica no CCO (amplamente divulgada na imprensa) que comprovou os trens estarem em perfeito estado de funcionamento.

CO Popular – Chama a atenção, em especial, a ausência de debates na Câmara Municipal sobre essa questão do cancelamento do projeto do VLT pelo governo do Estado. A que o senhor atribui este desinteresse evidente dos vereadores sobre esta pauta?

Vicente Vuolo – Eu participei de uma audiência pública na Câmara Municipal de Cuiabá e de Várzea Grande, onde reafirmei toda a farsa do BRT e viabilidade total do VLT. O que atrapalhou muito foi a politização do assunto entre prefeito e o governador. É óbvio que a questão precisa mobilizar mais não apenas os vereadores, mas toda a população cuiabana para ser levada para um debate com mais profundidade e amplitude, incluindo audiências públicas nos bairros. Essa decisão (de abandonar o VLT) não pode ser tomada em gabinetes e de afogadilho.

CO Popular – O governador diz que vai recuperar na Justiça pelo menos 800 milhões dos 1,06 bilhão gasto com o BRT. O senhor acredita nisto?

Vicente Vuolo – Como eu já disse, o TCE aprovou o investimento de mais de R$ 800 milhões em obras de infraestrutura executadas e na compra de 40 trens e 280 vagões da Espanha. Ainda tinham sobrado 190 milhões na conta do VLT. Não creio que seja razoável esperar que esse investimento todo seja recuperado judicialmente.

CO Popular – Qual seria, no seu entendimento, o caminho para que Cuiabá não perca a chance de dar este salto de qualidade no transporte público?

Vicente Vuolo – Agora, a implantação do VLT em Cuiabá só depende do prefeito municipal. Cabe ao prefeito Emanuel Pinheiro decidir politicamente que a prefeitura assuma o projeto e busque os meios legais e econômicos para viabilizar a conclusão das obras na capital. De acordo com os técnicos mais gabaritados, uma Parceria Público Privada (PPP) seria o caminho mais viável dentro desta perspectiva.

Fonte:copopular.com.br


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