Novo fármaco consegue retardar declínio cognitivo causado pelo Alzheimer

Novo fármaco consegue retardar declínio cognitivo causado pelo Alzheimer
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Anticorpo monoclonal donanemabe apresentou bons resultados em testes clínicos de fase 3 com 1.736 indivíduos acometidos pela doença

A farmacêutica estadunidense Eli Lilly anunciou em julho os resultados da fase final de testes clínicos de um medicamento experimental contra a doença de Alzheimer. O composto, um anticorpo monoclonal chamado donanemabe, mostrou-se capaz de retardar o declínio cognitivo em até 60% em indivíduos tratados nos estágios iniciais da doença.

Os resultados foram publicados na revista científica Journal of the American Medical Association (JAMA) em 17 de julho e divulgados no mesmo dia na conferência internacional anual da Associação de Alzheimer, promovida em Amsterdã, nos Países Baixos.

A Eli Lilly já havia divulgado resultados parciais de seu estudo em maio, mas alguns pesquisadores ainda tinham dúvidas sobre a segurança e eficácia do fármaco em determinados grupos de pacientes.

O anúncio da nova droga se deu poucas semanas após a agência regulatória de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), ter aprovado o uso de outro fármaco contra a doença, o lecanemabe (vendido sob o nome comercial de Leqembi), da farmacêutica japonesa Eisai.

Um terceiro fármaco, o aducanumabe (vendido com o nome de Aduhelm), da empresa estadunidense de biotecnologia Biogen, já havia sido aprovado para uso em 2021.

Todos eles agem da mesma forma no cérebro, eliminando aglomerados de beta-amiloide, uma proteína que danifica os neurônios. No caso dos testes clínicos envolvendo o donanemabe, o medicamento foi injetado de forma intravenosa a cada quatro semanas durante 18 meses.

O estudo envolveu 1.736 pacientes de oito países, com idades de 60 a 85 anos. Todos tinham comprometimento cognitivo leve, mas diferentes níveis de acúmulo da beta-amiloide e de uma proteína cerebral chamada tau, cujos níveis aumentam à medida que a doença progride.

Os participantes foram divididos entre os que receberam o fármaco e os que receberam placebo. O tratamento reduziu com sucesso as placas da beta-amiloide: em média 84% nos 18 meses, em comparação com uma redução de somente 1% para os voluntários do grupo placebo. Eles pararam de receber o medicamento ao atingir o nível desejado de limpeza da proteína, algo que foi feito por aproximadamente metade dos participantes em menos de um ano. Isso é positivo pois quanto menor o tempo da aplicação, menores são os riscos de efeitos colaterais.

Entre aqueles com baixa concentração da proteína tau no cérebro, e que estavam no estágio mais inicial possível do comprometimento cognitivo, essa eliminação resultou em um declínio cognitivo 60% mais devagar em comparação com o grupo placebo.

A chegada desses medicamentos marca um ponto de virada no que tem sido um longo e árduo caminho para se encontrar maneiras de retardar a doença de Alzheimer, que afeta 6,7 milhões de pessoas com 65 anos ou mais somente nos Estados Unidos. No Brasil, a doença representa entre 50% e 60% dos casos de demência — atualmente, 1,76 milhão de brasileiros com mais de 60 anos vivem com alguma forma de demência.

“Acho que isso realmente representa uma mudança radical”, disse o neurologista Jeffrey Cummings, da Universidade de Nevada, em Las Vegas, ao portal Science News. “Esse é um daqueles raros momentos em que não há problema em usar a palavra ‘inovação’.”

Apesar dos resultados promissores, ainda há pontos que merecem atenção. Os três medicamentos podem causar uma condição chamada “anormalidades de imagem relacionadas à amiloide” (do inglês amyloid related imaging abnormalities – ARIA), a qual, ocasionalmente, desencadeia convulsões e hemorragia cerebral. Cerca de um quarto dos participantes do estudo de fase 3 da Eli Lilly desenvolveu ARIA; três morreram em decorrência do problema.

Os casos de ARIA foram mais comum em participantes portadores da variação genética APOE4, que aumenta o risco de desenvolver Alzheimer. Os indivíduos que carregam esse gene também se beneficiaram menos do donanemabe em comparação com os participantes que não tinham a variante.

Em coletiva de imprensa, o diretor médico sênior da Eli Lilly, John Sims, disse que o donanemabe já está sob análise da FDA. O envio dos documentos para o pedido de aprovação foi concluído no último trimestre, e a empresa espera uma decisão no fim de 2023.

Fonte:    ipea.gov.br


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