OBITUÁRIO: Morre Jerry Lee Lewis, um dos nomes mais importantes do rock’n’roll, aos 87 anos

OBITUÁRIO:   Morre Jerry Lee Lewis, um dos nomes mais importantes do rock’n’roll, aos 87 anos
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Com música de alta energia sexual, ele foi dos três brancos mais importantes do gênero e o que teve o estrelato mais breve

O cantor Jerry Lee Lewis morreu aos 87 anos, de causas naturais, em sua casa, no estado do Mississippi, nos Estados Unidos, disse seu agente, Zach Farnum. Sua sétima mulher, Judith, estava ao seu lado.

Segundo o comunicado, Lewis foi “talvez o último e maior ícone do nascimento do rock and roll, cujo casamento com blues, gospel, country e performances cruas e vibrantes no palco ameaçaram o jovem Elvis Presley a ponto de fazê-lo chorar”.

Dos três artistas brancos mais importantes do início do rock’n’roll, nos anos 1950, Jerry Lee Lewis foi o que teve vida mais longa e estrelato mais breve. Elvis Presley, morto em 1977, se ajustou às regras para se tornar o queridinho da Sessão da Tarde. Buddy Holly, morto em 1959, teve a carreira interrompida no auge —morreu em um acidente aéreo um ano e oito meses após estourar nas paradas. Jerry Lee desafiou o sistema, e este o atirou ao ostracismo em apenas um ano —o pianista e cantor nunca mais recuperou a popularidade atingida em 1957.

O fato mais determinante na carreira de Jerry Lee não foi a selvageria de sua performance no palco nem a altíssima energia sexual de sua música —ele ficou indelevelmente marcado ao se casar, em 1957, com uma prima de 13 anos. A indústria do entretenimento respondeu com um boicote ao músico. Na década seguinte, ele sobreviveria como intérprete de country music. Apenas nos anos 1980 sua imagem seria resgatada para se tornar ídolo cult de uma nova geração de roqueiros.

Jerry Lee nasceu em uma família pobre de Ferriday, no estado da Louisiana —no cinturão bíblico do sul dos Estados Unidos, onde a igreja protestante desempenha um papel de destaque nas relações sociais e políticas.

Autodidata, tocava e cantava na igreja local desde a infância. Ganhou o primeiro piano aos dez anos, graças a um empréstimo, contraído pelo pai, em que a casa dos Lewis era a garantia. Aos 14, estreou no show business, apresentando-se na inauguração de uma concessionária de carros local. O garoto era influenciado pela música caipira que tocava então no rádio —Hank Williams, Jimmie Rodgers e Ray Price, entre outros.

Sua mãe, muito religiosa, tinha outros planos. Matriculou o jovem Jerry em um seminário evangélico no Texas, de onde foi prontamente expulso por tocar a “música do Diabo” —a mitologia do rock dá conta de que Lewis, durante o serviço religioso, executou um hino de louvor a Deus com levada “boogie woogie”.

Em 1956, Lee Lewis estava em Memphis, no Tennessee, onde a lendária gravadora Sun recrutava artistas que misturavam o som negro do rythm and blues com o country. Seu primeiro compacto para o selo foi um cover de “Crazy Arms” —uma balada em estilo sertanejo americano cujo narrador lamenta a perda de seu amor para outro homem. O single vendeu 300 mil cópias, o que fez de Jerry Lee um astro regional.

No final do ano, enquanto trabalhava como músico de estúdio para Carl Perkins, a sessão foi “invadida” por Elvis Presley e Johnny Cash —o resultado da “jam session” se transformou no disco “The Million Dollar Quartet”, lançado somente em 1981.

O sucesso de “Crazy Arms” foi seguido de uma turnê em que o jovem músico desenvolveu sua postura amalucada no palco —chutava para longe o banquinho do piano e tocava em pé, martelando as teclas violentamente. Nascia “The Killer”, ou o matador, epíteto que acompanhou Lee Lewis ao longo de sua carreira.

No ano seguinte, em 1957, o matador se tornou a grande cartada do empresário Sam Phillips, dono da gravadora Sun, que havia recentemente perdido Elvis para a RCA. A aposta começou a dar certo em abril, quando Jerry Lee lançou “Whole Lotta Shakin’ Goin’ On”, que atingiu o topo das paradas de R&B da revista Billboard. Tratava-se de um blues gravado originalmente pela cantora negra Big Maybelle —nas mãos de Lee Lewis se tornou um rock acelerado em que o piano frenético do “killer” desenvolvia todo seu potencial.

Os dois compactos seguintes, “Great Balls of Fire” e “Breathless”, iam na mesma toada e definiram a transformação de Lee Lewis —em poucos meses, ele passou de caipira xucro a astro internacional.

Foi justamente num giro pelo exterior que veio a queda, tão rápida, drástica e espetacular quanto a ascensão. Em maio de 1958, ele foi recebido no aeroporto de Heathrow, em Londres, por um séquito de repórteres interessados não em música, mas em fofocas para os tabloides que os empregavam.

Um desses jornalistas era Paul Tanfield, do Daily Mail, que perguntou a Lewis a idade da jovem mulher que o acompanhava. “Quinze”, mentiu o roqueiro. Myra Gale Brown tinha 13 anos, nove a menos que o marido, seu primo-irmão.

O escândalo foi para a capa de todos os tabloides britânicos. A turnê foi cancelada. Nos Estados Unidos, os discos de Lee Lewis foram banidos das estações de rádio. O cachê do artista caiu de US$ 10 mil para US$ 250 por apresentação, ou cerca de R$ 1.332.

Após dez anos de investidas frustradas para furar o bloqueio imposto pela indústria do pop, Lewis mudou de estratégia em 1968 —se tornou um intérprete de country music. Até 1977, colocou 17 músicas entre as dez mais tocadas nas rádios especializadas nesse segmento.

Em 1976, ele voltaria à imprensa sensacionalista com uma suposta tentativa de invadir a casa de Elvis Presley para assassiná-lo. Na versão de Lee Lewis, aquilo foi apenas um enorme mal-entendido —ele tinha uma pistola carregada e estava tão bêbado que jogou seu carro, acidentalmente, contra os portões de Graceland. Mas só estava lá para conversar com o antigo companheiro.

Foi apenas nos anos 1980 que Jerry Lee Lewis se firmou como uma lenda do rock’n’roll. Para a nova geração de ouvintes, os escândalos de outrora ajudavam a compor a figura mítica do músico, que voltou a se apresentar para audiências fora do circuito country.

Em 1989, a cinebiografia “A Fera do Rock”, no original, “Great Balls of Fire”, com Dennis Quaid no papel principal, trouxe uma trilha sonora com regravações dos sucessos de Lee Lewis —feitas pelo próprio ou por outros artistas, incluindo um curioso dueto do velho roqueiro com o ator que o interpretava, em “Crazy Arms”. O matador chegava à MTV.

Nos últimos anos de vida, ele concentrou sua carreira em álbuns de duetos com medalhões da música pop, como “Last Man Standing”, de 2006, com participações de Mick Jagger e Willie Nelson, e “Mean Old Man”, com Eric Clapton e John Fogerty.

O casamento com a prima Myra, sua terceira mulher, durou 13 anos. Depois dela, viriam outras quatro mulheres —a última união, com Judith Brown, foi oficializada em 2012.

Fonte:    diariodecuiaba.com.br


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