Perigo ainda não acabou após Grupo Wagner desistir de ofensiva contra Moscou, alertam especialistas

Perigo ainda não acabou após Grupo Wagner desistir de ofensiva contra Moscou, alertam especialistas
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Especialistas avaliam que motim de mercenários pode ter expostos fragilidades internas da Rússia e no trato do conflito com a Ucrânia

Em um dia e meio, a Rússia enfrentou a ameaça muito real de uma revolta armada. O presidente Vladimir Putin chegou a prometer punição aos combatentes do Grupo Wagner que marchavam em direção a Moscou e ocupavam cidades ao longo do caminho — antes que um acordo repentino com Belarus parecesse neutralizar a crise com a mesma velocidade que quanto ela.

Mas muita coisa permanece incerta, com especialistas alertando que o motim provavelmente não desaparecerá tão rapidamente sem consequências no futuro.

Putin agora deve navegar pelas implicações do mais sério desafio à sua autoridade desde que chegou ao poder em 2000, após uma série de eventos vertiginosos observados de perto — e nervosamente — pelo mundo e aplaudidos pela Ucrânia.

O chefe do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, está sendo enviado para Belarus, aparentemente ileso, mas pode ter pintado um alvo nas próprias costas como nunca antes.

Veja o que se sabe:

Quais são as últimas informações?

Prigozhin concordou em deixar a Rússia para o vizinho Belarus no sábado (24), em uma negociação aparentemente mediado pelo presidente do país, Alexander Lukashenko.

O acordo inclui a retirada das tropas do Grupo Wagner que marchavam em direção à capital, disse um porta-voz do Kremlin no sábado.

As acusações criminais contra ele serão retiradas, conforme afirmou o porta-voz. Os mercenários não enfrentarão nenhuma ação legal por sua participação no motim e, em vez disso, assinarão contratos com o Ministério da Defesa da Rússia — medida que Prigozhin havia rejeitado anteriormente como uma tentativa de colocar sua força paramilitar na linha.

As tropas do Gurpo Wagner afirmaram anteriormente que haviam tomado instalações militares importantes em duas cidades russas; no sábado, vídeos autenticados e geolocalizados pela CNN mostraram Prigozhin e suas forças se retirando de uma delas: Rostov-on-Don.

Não está claro onde Prigozhin está agora. O Kremlin não sabe de seu paradeiro, disse o porta-voz no sábado.

Como isso aconteceu?

A crise na Rússia estourou na sexta-feira (23), quando Prigozhin acusou os militares russos de atacar um acampamento do Grupo Wagner e matar seus homens — e prometeu retaliar pela força.

O líder, então, liderou suas tropas em Rostov-on-Don e afirmou ter assumido o controle das principais instalações militares na região de Voronezh, onde houve um aparente confronto entre as unidades de Wagner e as forças russas.

Prigozhin afirmou que não foi um golpe, mas uma “marcha de justiça”. Mas isso fez pouco para apaziguar Moscou, que teve um alto funcionário de segurança chamando as ações do grupo de “golpe de estado encenado”, segundo a mídia estatal russa.

O Ministério da Defesa da Rússia negou ter atacado as tropas do Grupo Wagner, e a força de segurança interna da Rússia abriu um processo criminal contra Prigozhin.

Em um discurso transmitido para toda a Rússia na manhã de sábado — no horário local — um Putin visivelmente furioso prometeu punir aqueles “no caminho da traição”.

A “traição” do Grupo Wagner foi uma “punhalada nas costas de nosso país e de nosso povo”, disse ele, comparando as ações dos mercenários à Revolução Russa de 1917, que derrubou o czar Nicolau II em meio à Primeira Guerra Mundial.

As coisas estavam tensas no terreno, com civis em Voronezh instruídos a ficar em casa. Enquanto isso, Moscou intensificou suas medidas de segurança em toda a capital, declarando segunda-feira (26) um dia não útil. As fotos mostram as forças russas em armaduras e empunhando armas automáticas perto de uma rodovia nos arredores de Moscou.

Todos os sinais apontavam para um confronto armado iminente na capital, enquanto rumores e incertezas aumentavam.

Então, quase tão repentinamente quanto começou, o motim de curta duração acabou com o acordo de cessar-fogo mediado por Belarus — pelo menos por enquanto.

O que deve acontecer com Prigozhin e o Grupo Wagner?

Muita coisa ainda não está clara, como o que acontecerá com o papel de Prigozhin no Grupo Wagner e na guerra da Ucrânia, e se todos os seus combatentes serão contratados pelas forças armadas da Rússia.

O porta-voz do Kremlin disse no sábado que “não pode responder” que posição Prigozhin assumirá em Belarus. O próprio Prigozhin forneceu poucos detalhes sobre seu acordo para interromper o avanço sobre Moscou.

O Grupo Wagner é “uma companhia de combate independente” com condições diferentes das forças armadas russas, disse o major reformado do Exército dos EUA Mike Lyons no sábado. Por exemplo, os mercenários são mais bem remunerados do que os militares — o que significa que uma assimilação completa seria difícil.

“Talvez alguns se estilhacem”, acrescentou. “Essas pessoas são leais ao homem, Prigozhin, não ao país, não à missão. Acho que temos muito mais perguntas que não foram respondidas agora.”

O perigo também não acabou para o chefe do Grupo Wagner, dizem os especialistas.

“Putin não perdoa traidores. Mesmo que Putin diga: ‘Prigozhin, vá para Belarus’, ele ainda é um traidor e acho que Putin nunca perdoará isso”, disse Jill Dougherty, ex-chefe da sucursal da CNN em Moscou e especialista de longa data em assuntos russos.

É possível que vejamos Prigozhin “ser morto em Belarus”, acrescentou ela — mas é um dilema difícil para Moscou porque, enquanto o chefe dos mercenários “tiver algum tipo de apoio, ele é uma ameaça, independentemente de onde esteja”.

O que isso significa para Putin?

Putin agora também enfrenta problemas reais.

Vários especialistas disseram à CNN que, embora o presidente russo tenha sobrevivido ao impasse, ele agora parece fraco — não apenas para o mundo e seus inimigos, mas para seu próprio povo e militares. Isso pode representar um risco se houver céticos ou rivais em Moscou que veem uma oportunidade de minar a posição de Putin.

“Se eu fosse Putin, ficaria preocupado com aquelas pessoas nas ruas de Rostov aplaudindo o povo do Grupo Wagner enquanto eles saem”, disse Dougherty.

Um vídeo, geolocalizado e verificado pela CNN, mostrava multidões aplaudindo enquanto o veículo de Prigozhin partia de Rostov-on-Don. O veículo parou quando um indivíduo se aproximou e apertou a mão de Prigozhin.

“Por que os russos comuns estão aplaudindo nas ruas as pessoas que acabaram de tentar dar um golpe?” disse Dougherty. “Isso significa que talvez eles os apoiem ou gostem deles. Seja o que for, é realmente uma má notícia para Putin.”

Quem é Prigozhin? Por que ela faria isso?

Prigozhin conhece Putin desde os anos 1990 e recebeu o apelido de “chef de Putin” após ganhar contratos lucrativos de catering com o Kremlin. Mas os movimentos separatistas apoiados pela Rússia na Ucrânia em 2014 estabeleceram as bases para sua transformação em um senhor da guerra.

Ele fundou o Wagner para ser um grupo mercenário obscuro que lutou tanto no leste da Ucrânia quanto, cada vez mais, por causas apoiadas pela Rússia em todo o mundo.

Os mercenários foram colocados no centro das atenções durante a guerra na Ucrânia, com os combatentes parecendo obter progresso tangível onde as tropas regulares russas falharam. No entanto, acredita-se que suas táticas brutais tenham causado um grande número de baixas.

À medida que a guerra se arrastava, Prigozhin e a liderança militar da Rússia se envolveram em uma rixa pública, com o chefe do Grupo Wagner acusando os militares de não dar munição às suas forças e lamentando a falta de sucesso no campo de batalha por unidades militares regulares.

Ele criticou repetidamente a maneira como lidaram com o conflito, apresentando-se como implacável e competente em comparação com as tropas militares.

Prigozhin sempre teve o cuidado de direcionar sua culpa para a liderança militar da Rússia, não para Putin, e defendeu o raciocínio da guerra na Ucrânia.

Isso foi até sexta-feira, quando a insurreição começou.

Em um pronunciamento, Prigozhin disse que Moscou invadiu a Ucrânia sob falsos pretextos elaborados pelo Ministério da Defesa da Rússia e que a Rússia estava, na verdade, perdendo terreno no campo de batalha.

Steve Hall, ex-chefe de operações da CIA na Rússia, disse que até observadores experientes da Rússia ficaram surpresos com os eventos recentes.

“Todo mundo está coçando a cabeça”, disse ele à CNN. “A única avaliação que posso fazer em um dia como hoje é que você tem dois caras que se encontraram em situações insustentáveis ​​e tiveram que encontrar uma saída.”

Hall disse que Prigozhin pode ter sentido que havia dado um passo maior do que a perna enquanto sua coluna de tropas marchava em direção a Moscou. Mas, ao mesmo tempo, Putin enfrentou a perspectiva muito real de ter de derrotar cerca de 25 mil mercenários.

O envio de Prigozhin para Belarus foi uma jogada que salvou a cara de ambos os lados.

Mas Hall disse que Putin acaba ficando pior e enfraquecido.

“Putin deveria ter previsto isso literalmente meses atrás. Veremos como acaba. Acho que a história ainda não acabou”, disse Hall.

Fonte:    cnnbrasil.com.br


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